Uma semana depois de ir ao fórum tomar ciência de que seu julgamento tinha sido marcado para 5 junho, Suzane Louise von Richthofen, de 22 anos, pediu à Justiça para tomar conta do patrimônio dos pais, Manfred e Marísia, de cujo assassinato participou, em 2002.

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Em petição datada de 27 de fevereiro, a que a reportagem teve acesso, o advogado de Suzane, Denivaldo Barni Júnior, alega que o irmão da jovem, Andreas, cuida dos bens da família "com total descaso e desleixo", age com "patente má-fé" e usa o Judiciário "através de uma ridícula manipulação". Por isso, prossegue, Andreas deve perder a responsabilidade sobre a administração dos bens, que estariam sendo dilapidados, e passá-la para a jovem, ré confessa, que pode ter pena mínima de 25 anos, se condenada.

Em termos técnicos, Suzane quer ser a inventariante do espólio dos pais. Em português claro, quer decidir o que fazer com os imóveis, como investir o dinheiro e como gerenciar os demais bens da família. O inventariante não pode gastar o dinheiro, nem tem livre gestão – precisa prestar contas de cada ato aos demais herdeiros. Se lesa o patrimônio, responde por isso. Após a morte dos pais, Andreas entrou na Justiça para tentar deserdar Suzane. Pelo Código Civil, devem ser excluídos da sucessão os herdeiros que tentam ou são "autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso" contra o titular dos bens. Ainda não há sentença. A advogada de Andreas, Maria Aparecida Cardoso Frosini Lucas Evangelista, disse que não poderia comentar o assunto porque o processo corre sobre segredo de Justiça. O mesmo disse Denivaldo Barni, pai de Barni Júnior, que ampara Suzane desde a época do crime. O advogado não foi encontrado pela reportagem em seu escritório.

Além de pedir que Andreas preste conta da gestão de alguns bens, Suzane afirma que o Gol dourado, usado na noite do crime, é só dela e não deve ser incluído na partilha. Afirma o mesmo sobre as jóias da avó, Margot Gude Hahmann, mãe de Manfred já falecida.

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A jovem também pede para "fixar residência" num apartamento da família na Vila Catarina, próxima ao Brooklin. Hoje, ao ser informado da pretensão dela, o porteiro do prédio, que se identificou como Salomão, disse: "Se dependesse de mim, ela não viria. Mas não depende."

Amoralidade

Segundo o promotor do caso, Roberto Tardelli, "Suzane está perseguindo o objetivo dela, que é grana " Tardelli disse ter sido informado que a jovem também requer metade do seguro de vida dos pais e sete salários mínimos de pensão. "A amoralidade desses pedidos deve chocar o criminoso mais frio. Nunca vi pessoa mais amoral." Ele estima que o patrimônio da família seja de uns R$ 2 milhões.

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O documento, ao mesmo tempo em que ataca Andreas, transcreve um bilhete atribuído a ele, supostamente de 22 de junho de 2003, que diz: "Querida Su! Estou morrendo de saudade de você. Você sabe que eu não tenho vindo te ver porque meu tio me proibiu de vir te ver. Você sabe que sou contra isso. Eu também sou contra o processo de exclusão de herança. Eu continuo do seu lado. Um beijo. Andreas." Há ainda uma foto de Suzane com a avó Lourdes, mãe de Marísia, supostamente feita em 27 de julho de 2005. A defesa usa a imagem para afirmar que ela tem "rotineiro contato" com a família.

Defesa

O advogado que substituiu recentemente Antônio Cláudio Mariz de Oliveira na defesa de Suzane, Mário de Oliveira Filho, resolveu adotar o contato com a imprensa como tática de defesa. Mariz desaconselhava a cliente a dar entrevistas, principalmente para a televisão.

"Vamos tentar descondená-la", disse Oliveira Filho sobre a entrevista que a jovem concedeu ao "Fantástico", da Rede Globo Segundo ele, a jovem está "condenada oficiosamente" pela opinião pública e, como irá a júri popular, é importante que o povo a conheça melhor.

"Se ela fosse julgada por um juiz, é uma coisa. Não precisaria falar porque ele se guia por normas. Mas o povo é quem vai julgá-la." O advogado representa também o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil e ex-presidente da Previ Henrique Pizzolato, acusado de ser um dos abastecedores do caixa 2 do PT. "Ele não dará entrevista porque será julgado por um juiz."

Os irmãos Daniel e Christian Cravinhos, que participaram com Suzane do assassinato, também tentaram jogar para a torcida. Eles deram entrevista à Rádio Jovem Pan em meados de janeiro e foram presos de novo dias depois.

Oliveira Filho disse que teve uma semana desgastante. Ontem foi parar no pronto-socorro do Hospital São Luís, em São Paulo, pensando que iria enfartar. "Tenho casos muito pesados. Esse caso da Suzane… O telefone toca toda hora. A gente ouve propostas das mais decorosas à mais indecorosas. Às vezes dá vontade de dizer que o cara ligou para o número errado."

O julgamento dos três está marcado para junho, mas deve ser dividido porque as teses das defesas são diferentes.