Começa hoje o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, acusados do assassinato dos pais dela, Manfred e Marísia, em 2002. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que os três réus devem ter um júri único, ao contrário do que queriam os advogados de Suzane, Mauro Otávio Nacif e Mário Sérgio de Oliveira. Tudo indica que houve acordo entre o promotor Roberto Tardelli e o advogado dos Cravinhos, Geraldo Jabur, para um julgamento conjunto. O juiz do caso, Alberto Anderson Filho, afirmou que não há motivo para separar os júris
Nacif e Oliveira pedirão ao juiz, no início da sessão, que registre em ata que o júri conjunto fere o direito à ampla defesa de sua cliente, porque os advogados terão menos tempo para falar que os promotores. O Ministério Público Estadual (MPE) poderá dispor de duas horas para acusar e mais uma hora de réplica. A defesa terá o mesmo tempo – duas horas de defesa e uma de tréplica -, mas dividido por dois blocos, o de Suzane e o dos Cravinhos. Fazer constar essa informação em ata é uma estratégia para, eventualmente, pedir a anulação do júri
Suzane alegará que foi induzida pelo então namorado Daniel a cometer o crime e pedirá absolvição. Os irmãos dirão que a idéia de matar o casal partiu da jovem e buscarão a menor pena possível. A expectativa do MPE é de que todos sejam condenados a penas por volta de 50 anos. A previsão é de que o júri leve quatro dias
O depoimento de Suzane deve durar horas. Há expectativa também a respeito das falas de Andreas, irmão da jovem, e de Nadja Cravinhos, mãe dos irmãos, que nunca se pronunciou sobre o crime
No banco dos réus, estará uma jovem incapaz de ver além do presente, segundo a pesquisadora de homicidas Ilana Casoy, autora de um livro sobre o caso Richthofen. "Ela tem um raciocínio imediatista", analisa Ilana, em perfil traçado exclusivamente para o Estado. "Enquanto planejava matar os pais, Suzane pensava em ficar com Daniel, mas não em ficar sem os pais como se não fosse algo interligado." O perfil feito pela pesquisadora – que acompanhou todo o trabalho da polícia, da perícia e da Justiça no caso – é de uma Suzane que funciona como uma maquininha que só processa uma informação de cada vez. Segundo Ilana, primeiro ela se concentrou no crime e não pensou em prisão; na seqüência, foi presa, brigou pela libertação e não se preocupou com julgamento; agora, lê o processo e se prepara para o júri. "Depois do júri? Ela nem deve pensar nisso…
Não, ela não é burra, diz a autora. "É imatura, um pouco infantil." O principal exemplo é que a jovem nunca esperou ser descoberta. No dia do assassinato, os três bagunçaram a casa germanicamente para simular um latrocínio, não roubaram carro e deixaram uma arma no quarto – pistas de amadores. Uma das características da imaturidade, diz Ilana, é subestimar o outro. Na polícia, após confessar o crime, Suzane virou-se para sua advogada e perguntou: "Doutora, eu vou ser presa?". "Qual a dúvida? Que parte ela perdeu?", questiona Ilana