Sem livro didático adequado, sem merenda necessária e sem professores em número suficiente e bem preparados, o ensino médio brasileiro está jogado às traças. A média de repetência em todo o País supera a casa dos vinte por cento, o que significa dizer que, a cada cinco alunos, um está estudando a mesma coisa que estudava no ano passado. Segundo outros dados disponíveis, 59% dos alunos da 4.ª série do ensino fundamental não sabem ler e escrever. São, sem exagero algum, analfabetos depois de esquentar, por longos anos, os bancos escolares. Há outros problemas sérios nessa área, já tantas vezes denunciados, escancarando o enorme débito do País na área da educação – do ensino primário ao universitário.

A educação é encarada por muitos como a única tábua de salvação para a sociedade. Fizeram isso outros países e o investimento realizado, longe de representar um peso, demonstrou-se altamente compensador. Nos discursos oficiais – do município à União – esse é um tema sobre o qual já se gastaram rios de tinta e saliva. No entanto, a prática está aí a demonstrar que, desgraçadamente, estamos mais para caranguejos – apenas para usar a imagem do crustáceo que anda de ré, utilizado por estudantes, dias atrás, num protesto, em Brasília. O atual ministro da Educação, Cristovam Buarque, tem consciência do problema a ponto de declarar, recentemente, que não investir em educação é ato de puro terrorismo. Em busca de maior fatia no Orçamento da União, ele chegou a incentivar alunos secundaristas para uma onda de protestos na Esplanada dos Ministérios…

Pródigo em idéias, Buarque tem mais uma: criar um “Sistema Único de Educação”, inspirado no Sistema Único de Saúde – SUS e, no mais recente similar, Sistema Único de Segurança Pública – SUSP. Seria algo como a sigla SUE, englobando esforços e participação da União, dos estados e dos municípios, mas também de sindicatos, associações e organizações não-governamentais – ONGs, onde o objetivo maior seria criar uma mobilização para solucionar – como diz o ministro – os problemas da educação brasileira, que apresentam facetas consideradas catastróficas.

Sabe-se que hoje as responsabilidades estão divididas: parte delas cabe aos municípios, parte aos governos dos estados e, outra parte, à União. Se a parte confiada à administração dos prefeitos vai mal, aquela dos estados também e, assim, sucessivamente. Daí esse círculo vicioso em que todos são culpados, mas, ao mesmo tempo, têm para onde distribuir culpa, que acaba sempre sobrando também para as famílias. O abandono e pouco caso na grande maioria das escolas é visível até na aparência física dos estabelecimentos, onde tudo acontece – da chuva dentro à livre distribuição de droga.

A idéia de Cristovam não é má, já que encerra uma vontade de enfrentar um dos mais sérios problemas brasileiros. Ela nos remete, entretanto, para um sistema que também não está funcionando a contento – o da saúde pública, para cuja tentativa de salvação recorreu-se até à desvirtuada CPMF que, de imposto transitório e específico, foi transformado em permanente e genérico, a despeito de ser cascateiro, seu mal maior.

Entre a vontade e a prática – eis o problema de sempre – vai um abismo. E para a modificação dessa abissal realidade, que não é privilégio apenas da Educação, está sendo idéia recorrente do governo que aí está remeter a responsabilidade à sociedade, como se ela, e não o próprio governo, tivesse obrigação maior de agir. Além de pagar impostos, é claro. Não dizia o candidato Lula que para fazer o Brasil entrar nos eixos bastava um pouquinho de vontade política?

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