Claro que há os gabaritos por dificuldades a que são submetidos os paratletas – os nadadores, por exemplo, têm classificações que vão de S1 (a mais crítica, onde estão inscritos os amputados ou com graves problemas de nascença) a 10 os quase ‘normais’ -, mas há, também, uma sofisticada tecnologia desenvolvida em laboratório com o objetivo de substituir membros, compensar movimentos, explorar o potencial ao máximo. É a isso que se dedicam os estudiosos do movimento, os biomecânicos, os bruxos desta Paraolimpíada de Atenas.
O professor Sílvio Soares dos Santos é diretor da Faculdade de Educação Física de Uberlândia e especialista em biomecânica. Está em Atenas como membro da Comissão de Avaliação do Comitê Paraolímpico, que acaba de lançar um trabalho sobre tudo o que tem sido feito com os nossos paraolímpicos.
E está tendo a oportunidade de acompanhar a evolução do setor. Sílvio Santos está impressionado. “A análise do movimento, e o que ela pode proporcionar de melhoria de rendimento nos atletas paraolímpicos, está muito sofisticada. Assim como a utilização de materiais. Hoje, as próteses utilizadas pelos atletas de ponta, os velocistas, são de titânio e alumínio, materiais leves, resistentes e que têm elasticidade. Se você vestir um atleta desses com uma roupa normal e pedir que ele ande, mesmo não tendo as duas pernas, será difícil identificar que ele tem uma deficiência”, explica o professor Sílvio.
As próteses a que ele se refere se assemelham a ganchos achatados, que não apenas dão estabilidade ao atleta, como também impulso, já que são flexíveis. Um ‘efeito estilingue’ impressionante.
A maioria dos atletas paraolímpicos é formada por gente que encontrou no esporte uma maneira de fugir da cama e da cadeira de rodas. Hoje, no entanto, o negócio é de muitos milhões de dólares. A empresa norte-americana Otto Bock não apenas é uma das patrocinadoras da Paraolimpíada, como também fornece próteses para os competidores da sua equipe nacional. Há propaganda deles espalhada por todos os recintos.
Uma perna pode custar uma fortuna, dependendo do material. Há equipamentos mais caros e outros sendo testados. O mesmo acontece com as cadeiras de rodas. Algo como a fórmula 1, que testa na pista o que, depois, vai ser usado nas ruas. As utilizadas no basquete, têm aro inclinado e peso pena. Quando ocorre o tombo o próprio atleta se levanta e segue jogando com a maior facilidade. Tudo, segundo o professor Sílvio Soares dos Santos, é analisado por computadores.
Biônico – O supercampeão Clodoaldo Silva, que já ganhou três de ouro, e que pode ganhar mais, teve sua performance transferida para o computador – e melhorada. “Há dois anos, a braçada do Clodoaldo era 45 cm menor que agora. Essa melhora foi possível procurando tirar proveito da força dos seus braços e minimizando o fato de ele ter limitações nas pernas, que foram afetadas pela paralisia cerebral de nascença”, disse Sílvio.
Toda esta tecnologia continua sendo desenvolvida e colocada a serviço do desporto paraolímpico mundial. A paraolimpíada é a chance de novos testes. No caso do Brasil, no entanto, apesar dos avanços de laboratório, há um obstáculo adicional. Há tecnologia, espaços para treinamento, uma estrutura até que razoável. Então, por que tão poucos deficientes desfrutam? “Temos os equipamentos, mas o deficiente na maioria das vezes carente, não consegue chegar. Ou porque não há transporte adaptado, ou porque a família o esconde, envergonhada.” Isso tem de mudar.
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