Milhares de sunitas saíram nesta terça-feira (2) às ruas de várias cidades do Iraque para manifestar sua fúria pela execução de Saddam Hussein ao mesmo tempo em que o governo prometeu conduzir uma investigação sobre o vídeo ilegal, colocado na internet, mostrando funcionários xiitas zombando do ex-ditador quando ele seguia para a forca. O promotor Munkith al-Faroon – que pode ser ouvido no vídeo pedindo ordem – disse hoje que quase suspendeu o enforcamento por causa da zombaria, que pode inflamar ainda mais as disputas sectárias em um país que já está à beira da guerra civil.

continua após a publicidade

Um assessor do governo – que anunciou a investigação sobre quem gravou as imagens da execução com um telefone celular e as enviou aos meios de comunicação -, Sami al-Askari, acusou a oposição de usar o vídeo para desviar a atenção dos crimes de Saddam. "Eles não podem dizer que a corte foi injusta, então aproveitam-se da situação e esquecem que Saddam mereceu ser executado", disse. "Ninguém o agrediu ou insultou, já Saddam torturou muitos iraquianos, executou milhares e os enterrou em valas comuns.

O vídeo foi especialmente polêmico não apenas porque nele podiam ser ouvidos guardas e funcionários xiitas zombando de Saddam, mas porque mostra o momento do enforcamento do ex-ditador. Um dos advogados de Saddam, o francês Emmanuel Ludot, pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) que crie uma comissão para esclarecer as circunstâncias da execução. O advogado afirma que o ex-ditador "permaneceu até sua morte como prisioneiro de guerra, portanto deveria ter sido beneficiado com Convenção de Genebra", segundo a qual ele deveria ter sido fuzilado e não enforcado.

A Itália iniciou hoje uma ofensiva diplomática na ONU para obter uma moratória da pena de morte, após uma onda de críticas na Europa pelo enforcamento de Saddam. A execução e a forma como foi realizada provocou a fúria dos sunitas, que desde o sábado têm protestado, em sua maioria de modo pacífico, nos enclaves sunitas de todo o país. Os principais protestos de hoje ocorreram em Tikrit, a cidade natal de Saddam, e em Mossul, norte do Iraque, onde milhares de pessoas carregavam retratos de Saddam e faixas proclamando-o mártir. Em Samarra, sunitas rezaram por Saddam em uma mesquita venerada principalmente por xiitas, que foi destruída por uma bomba em fevereiro, desatando o atual choque sectário. A polícia de Bagdá informou ter encontrado hoje 45 corpos, aparentemente vítimas dos esquadrões da morte sectários que estão dividindo a sociedade iraquiana.

continua após a publicidade