Existem duas coisas que são intransferíveis, inalienáveis, indisponíveis e dependendo da decisão que tomemos no presente, dará o rumo de nosso futuro, uma é a vida e o outro é o voto. A vida é um presente divino, mesmo Deus ou Criador, como queiram muitos, não interfere, ou seja, nos dá o direito de usarmos dela do jeito que bem quisermos, a ponto de podermos ultrajar o presente divino de não aceita-la. A forma como conduzimos nossa vida é algo imprescindível. Quando a levamos destemperadamente, sem limites ou regras, o primeiro a reclamar será nosso corpo, e daí para que a vida esteja por um fio, seja numa cama de hospital ou no final, que geralmente é a fria maca do necrotério, é um pequeno passo, desta forma perdemos a chance se agíssemos diferente, em atingirmos a plenitude que a vida poderia nos oferecer. Não se pode descartar desta lógica, fatores meramente orgânicos, que difere de pessoa para pessoa, mas no conjunto somos todos iguais e as conseqüências semelhantes. Já com o voto não é diferente. Com ele escolhemos nosso representante, aquele que ira determinar o rumo de nossas vidas, já que nele estará depositado todo o nosso anseio de melhoras em todos os aspectos, desde o buraco na frente do portão de nossa casa, até políticas internacionais de exportação e importação que interferem diretamente sobre nossa condição de endividamento interno e externo.
Mas como exercer a plenitude da cidadania, se a atual forma de se votar, compromete o direito amplo a democracia. Antigamente o sistema de votação, feito pelas cédulas de papel, proporcionava o mais amplo sentido da democracia, coisa que hoje mesmo com o significativo avanço tecnológico não propicia. Naquele tempo, tinha-se a possibilidade da escolha, a candidatos; não votar em ninguém (voto branco); e o famoso voto nulo, onde as cédulas transformavam-se em verdadeiras tribunas de protestos. As atuais máquinas de votação, não oferecem todas as variantes, já que nela esta presente um pequeno monitor, onde o eleitor visualiza candidatos e números, alem das operações feitas, como corrige e erro; um teclado que vai de zero a nove; e as três grandes teclas: branco, corrige e confirma. E o voto nulo, como votar nele? Após o ano de noventa e quatro, ficou estabelecido, que os votos brancos, também seriam considerados nulos, sendo assim não seriam divididos entre os partidos. Mas voto branco, não é a mesma coisa que voto nulo. Os votos brancos geram uma série de interpretações que vão desde o esquecimento a quem se ia depositar o voto, até a falta de tempo ou indecisão na escolha das propostas, enfim cabe nele a idéia do vazio. O voto nulo, pelo contrário, traz em seu conteúdo uma idéia bem definida, de que não há proposta viável, e que tanto os partidos quanto os políticos não inspiram confiança no eleitor, que pretende desta forma uma mudança na postura, na ética, e principalmente ver valorizado, as realizações de propostas feitas, e abandonadas logo após o pleito eleitoral. Como a urna eleitoral, aparentemente não oferece esta solução, o que pensar do processo eleitoral? No mínimo que existe um acordo entre a política e a justiça, para que desta forma o eleitor seja obrigado a votar, apesar de que a obrigação já está cravada no conjunto legal, da carta Constitucional, que se diz democrática, porém desta forma terá ele, eleitor que consignar em qualquer candidato, ou simplesmente dar a idéia de vazio, ou falta de opinião, sendo assim demonstra que a democracia é apenas uma maquiagem e que o pano de fundo sempre foi a ditadura, agora política. Cremos que esta afirmativa seja infundada, tendo em vista que o judiciário brasileiro tem demonstrado transparência e lisura nas esmagadoras vezes em que foi acionado, porém cabe aqui o alerta tanto ao judiciário quanto aos políticos, que é imperioso o exercício da democracia, em toda a sua plenitude, já que a única forma de se anular o voto é digitando o numero zero ou nove, assim a maquina reconhecera como erro, e não nulo, mas propicia uma forma anômala de se anular o voto. Com o voto nulo, poremos ter a verdadeira demissão dos estragos feitos por maus políticos e a certeza de que a justiça age com imparcialidade. O principio nos dois casos é um único: o livre direito individual e exclusivo da escolha, sem ele a democracia adoece e morre e a vida pode ser ceifada pelo gesto tresloucado dos que se penduram na ponta de uma corda, por não verem perspectiva de mudança, mas afinal quantos ainda terão de morrer, para que alguma coisa mude neste país?
Adolfo Rosevics Filho é bacharel em Direito, escritor e escultor.