A despeito de que se tenha dado como mortas as ideologias e sobre elas já não se acendam nem velas, elas ainda têm sido utilizadas como recheio de discursos. Servem para o convencimento do povo, nos países onde são agudos os problemas sociais e gritantes as diferenças entre as camadas da sociedade. Onde há exploração do homem pelo homem, para recordar um “slogan” nada desprezível do comunismo ou outra forma de socialismo. A morte das ideologias foi decretada com a implosão do comunismo no Leste europeu e na Ásia, embora em alguns países ainda resista, como em Cuba, na Coréia do Norte e na China. Aqui, um comunismo político que dia a dia mais abandona o econômico.
A diferença básica, em termos econômicos, entre o socialismo, seja comunista ou algo que se lhe assemelhe, é que nele os meios de produção pertencem ao Estado. Nos mais radicais, tudo pertence ao Estado, até mesmo a liberdade individual ou coletiva de pensamento e expressão. O inverso se dá nas democracias ditas capitalistas, embora nelas também se encontrem tantos tipos que o hibridismo acaba sendo a regra.
Mas o que é o Brasil? O Brasil é um país capitalista, apelidado de neoliberal, em que há exploração do homem pelo homem e, o que é pior, do Estado que suga o povo, apropriando-se do que precisa para cumprir com suas obrigações sociais e o que poderia dispensar, para que os cidadãos e empresas pudessem sobreviver e cumprir com seus destinos. É nesse modelo híbrido que nos encontramos. E no governo atual, cada vez mais.
Não são poucos os pensadores políticos e os economistas, além de trabalhadores e empresários, que denunciam o vampirismo do governo, que tira da nação todos os recursos que pode, sob o argumento de que tem imensas e onerosas obrigações sociais a cumprir. E não as cumpre, enquanto empobrece o País, negando às empresas recursos e condições para que gerem empregos; aos trabalhadores, condições de salários condignos (veja-se o salário mínimo) e aos contribuintes o direito de guardar o suficiente no seu próprio caixa, para uma digna sobrevivência. Veja-se o caso do Imposto de Renda.
Surgiu dos trabalhadores, mais do que da burguesia, a grita contra a não-atualização da tabela do Imposto de Renda. Houve até passeata e uma promessa, até agora vazia, do presidente Lula, de que breve – sabe-se lá quando – vai propor a atualização, pois esse tributo já acusa uma defasagem de mais de 50%. Dinheiro que se suga do povo e vai para ao Tesouro. E o governo tradicionalmente nada ou pouco devolve, em termos de bens e serviços.
Feita a promessa de Lula, ninguém duvidou que venha a cumpri-la um dia, mas o que não se esperava é que pedisse o troco. Pois o troco, ou uma parcela do mesmo tamanho, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, está exigindo.
Ele condiciona a atualização do Imposto de Renda à criação de novas alíquotas, o que vale dizer que aceita deixar de sugar uma parte da sociedade, desde que outra seja igualmente sacrificada. O Estado, este nada quer perder e de nenhum tostão pretende abrir mão. Continua sócio majoritário desse social neoliberalismo capitalista híbrido em que o governo é o sócio majoritário e nós os minoritários. Ou apenas contribuintes.
Não se trata de questão se somenos. No momento, o que parece evidente é que, quanto mais dinheiro o governo deixe nas mãos da nação, mais depressa retomaremos o desenvolvimento econômico e geraremos empregos. Só o congelamento do IR tira do consumo nada menos de R$ 4,5 bilhões.