A desistência do deputado federal Odílio Balbinotti, quase escolhido por Lula para o Ministério da Agricultura, deixa uma lição que deve ser seguida por este e futuros presidentes. Se para cargos de muito menor importância é preciso uma investigação, uma folha corrida limpa, a prova de que o candidato está acima de qualquer suspeita, quanto mais para ministro de Estado e de um governo que pretende recuperar a imagem ética que defendia quando de sua primeira eleição. Houve displicência, pois Balbinotti está sendo processado pelo uso de laranjas para obter empréstimos de bancos públicos. E, mesmo que ainda não julgado, não era hora de ungi-lo, dando-lhe um cargo de tanta importância. Segundo Michel Temer, presidente do PMDB, agora situacionista, o presidente Lula não pensa assim, pois ?até lamentou muito que tivesse acontecido isso (desistência de Balbinotti). Como antes se disse, ele até apreciou a forma de ser de Balbinotti?, afirmou o presidente do PMDB.
Agora se anuncia que a segunda escolha de Lula, em acordo com a cúpula do PMDB, faltando uns últimos alinhavos, dentre eles o pode do governador paranaense, é do deputado Reinhold Stephanes. Já surgem os críticos, que dizem que ele não tem experiência em agricultura, o que nos parece não ser verdade, pois homem de reconhecida formação técnica em várias áreas, notadamente previdência social, Reinhold Stephanes já foi secretário da Agricultura do Paraná e secretário do Ministério da Agricultura. Foi um homem ligado ao governo FHC, e é conhecido um episódio em que se acusava de desonestidade um tucano da cúpula, quando a primeira-dama lembrou: ?É! Mas em compensação, nós temos um Reinhold Stephanes?, assim destacando o político paranaense por sua competência e honestidade.
Há ainda os que o criticam por ter participado do governo Collor, o que nos dias de hoje é um argumento que perde substância. O próprio Collor está lá, no Congresso, como senador da República, fazendo crer que se para uns a voz do povo é a voz de Deus, para outros parece ser a voz do diabo, tanto mais que no Congresso substituiu a esquerdista Heloísa Helena, moralmente inatacável. No mais, Stephanes é um economista e nunca como agora a agricultura precisou dos subsídios da ciência econômica, pois a atividade dita primária ganhou as complexidades das bolsas de ?commodities?, previsões de safras, de mercado e a necessidade indescartável do uso da informática.
O anúncio final da decisão de Lula e do PMDB sai hoje, mas a escolha era tida ontem como definitiva. Para o Paraná, a nomeação de um conterrâneo é muito importante, não porque almejemos privilégios, mas porque aqui se pratica uma agricultura moderna, que exige uma liderança também moderna e embasada em princípios econômicos, tecnologia e previsibilidade do comportamento do mercado. Não basta ser fazendeiro para ser um bom ministro dessa área. É preciso uma visão global do setor e preparo técnico, o que não falta ao indicado. Quanto à sua folha corrida, podem encontrar pecadilhos políticos talvez, mas sabidamente não existe nenhuma acusação consistente sobre o seu comportamento como técnico e homem público. E, por ter se equivocado na primeira escolha, procurando nomear um deputado que tinha processos abertos contra si, é de se imaginar que desta vez tanto a cúpula do PMDB quanto o governo tenham tido o cuidado de dar uma olhada na vida pregressa de Reinhold Stephanes, nada encontrando que pudesse justificar um veto como o sofrido por Balbinotti.
