Brasília (AE) – A escolha por sorteio dos relatores dos processos de cassação dos 13 deputados acusados de suposto envolvimento no esquema de ‘mensalão’ foi motivo de comemoração por alguns dos acusados e de preocupação de outros. Entre os acusados, a maioria acabou nas mãos de deputados que já demonstraram posições rigorosas no Conselho de Ética. O perfil do deputado que será o relator é um dos fatores que pesa no resultado final do julgamento pelo Conselho de Ética da Câmara.
Amigos e desafetos do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) não têm dúvida. A avaliação geral é de que, no sorteio dos relatores, faltou sorte ao deputado mais ilustre da lista dos processados no Conselho de Ética da Câmara. O processo do petista foi entregue ao deputado Cezar Schirmer, conhecido na Câmara como o "gaúcho baixinho e criador de caso" da ala rebelde do PMDB. João Paulo é acusado de ter recebido R$ 50 mil do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
"Esse papel de avaliador de conduta da vida alheia não me agrada, mas é minha tarefa. Sei da dimensão deste caso e quero conduzi-lo com isenção, dando o mais amplo direito de defesa ao acusado", resumiu o relator logo que soube de sua indicação. Schirmer foi oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, da mesma forma que faz oposição renitente à administração de Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele é um parlamentar experiente, preocupado com questões éticas e sempre atento à opinião pública muito exigente do Rio Grande do Sul", define Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
Crítico impiedoso do governo e do PT, Schirmer jamais foi frequentador do gabinete da presidência da Casa, nem mesmo quando o presidente foi o peemedebista Michel Temer (SP). E além de nunca ter tido qualquer proximidade com João Paulo, votou contra a proposta de reeleição do petista.
No caso do ex-líder do governo e deputado Professor Luizinho (SP), porém, o consenso entre governistas e adversários do PT é oposto ao de João Paulo. Todos avaliam que Luizinho teve mais sorte que o ex-presidente da Câmara, quando Pedro Canedo (PP-GO) foi escolhido para relatar seu processo. Não só pelo fato de Canedo ser do PP, partido que engrossa a lista dos acusados com quatro nomes, mas sobretudo por sua experiência de quatro mandatos e seu estilo calmo, leve e de bem com a vida. Canedo é, ainda, amigo do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, goiano como ele.
"Farei uma avaliação serena e sem preconceito", disse Canedo hoje, ao frisar que julgará o caso em detalhes, levando em conta apenas o código de ética que rege o Conselho. "Como não tenho relação de amizade nem de conflito com Luizinho, fico muito à vontade para examinar seu caso. Se eu não identificar um ilícito e achar que não há motivo para cassação, farei meu relatório sem o menor constrangimento", antecipou.
Aliados do deputado José Mentor (PT-SP) chegaram a comemorar a escolha de Edmar Moreira (PFL-MG) para relatar o processo contra ele. Recém integrado ao PFL, Moreira era do PL até o mês passado e atuou, com Mentor, na CPI do Banestado, na qual o petista foi o relator. "Não vou emitir juízo de valor. Não vou falar mais sobre Mentor", disse Moreira, assim que assumiu o processo. O caso poderá ser emblemático, já que outra variável dos processos de cassação é a atuação do partido do parlamentar. O PFL tem prometido ser rigoroso nos julgamentos e deverá atuar para impedir que um parlamentar de seus quadros inocente um petista.
O líder do PP José Janene (PR) também não se queixou da sorte hoje. A relatora de seu processo será a petista Angela Guadagnin (SP), reconhecida no Conselho por seu temperamento tranqüilo e cuidadoso. "Ela é uma pessoa respeitada e confio muito no trabalho do Conselho, que já demonstrou ter equilíbrio" avaliou o líder, certo de que terá boa oportunidade de defesa e de que a análise dos conselheiros será menos emocional, mais serena e mais técnica do que aquela feita sob na CPI dos Correios.
O ex-ministro pefelista Roberto Brant (MG) é outro que admite ter tido sorte na escolha do relator de seu processo, o peemedebista Nelson Trad (MS). "O Trad é parlamentar antigo, um político experiente, calejado e independente, que me conhece há muito tempo", ponderou Brant. Mas ele aposta que é sua reputação que mais pesará a seu favor, além de sua própria defesa, que fará de peito aberto sem a orientação de nenhum advogado.
O deputado João Magno (PT-MG) também terá de enfrentar a rigidez da avaliação do relator de seu processo, o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA). Carneiro foi o relator do pedido de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acabou aprovado pelo conselho e pelo plenário da Casa.
O petista mineiro admitiu assim que seu nome apareceu no escândalo ter recebido R$ 426 mil para suas campanhas de 2002 e de 2004, na qual disputou a prefeitura de Ipatinga (MG). O deputado Josias Gomes (PT-BA) também está nas mãos de um relator da oposição, o deputado Mendes Thame (PSDB-SP). Gomes sacou pessoalmente R$ 100 mil nas contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural em Brasília.