O estilo Lula de governar, a despeito das inúmeras críticas que tem gerado em amplos setores do pensamento conservador, como não poderia deixar de acontecer, é hoje um tema freqüente na pauta dos principais jornais da chamada grande imprensa internacional. O fato poderá causar urticária e profundo desagrado em muita gente, mas a verdade é que o presidente brasileiro superou com extrema pertinácia o inegável preconceito que havia contra ele nos países centrais e, mais que isso, deixou de ser tratado como uma figura folclórica que volta e meia desponta na escala sociopolítica do Terceiro Mundo.

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Na edição de ontem, o diário financeiro britânico Financial Times (FT), o livro de rezas de nove entre dez operadores do mercado mundial, reiterou aos leitores que as coisas não poderiam estar melhores para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem credita a qualidade de ?sortudo?. Diz o jornal que o Congresso está paralisado, mas dois anos e meio depois do escândalo do mensalão o presidente nada com largas braçadas nas águas plácidas de um mar que na ocasião esteve a ponto de tragá-lo. Para o FT, ?na época do escândalo do mensalão, no fim do primeiro mandato, Lula era visto não apenas como inelegível como corria o risco de sofrer um impeachment a qualquer momento?.

É necessário reconhecer que as tintas usadas no artigo são de tom carregado quanto à iminência do virtual impedimento de Lula, ou o diário londrino valeu-se agora de informações colhidas com a fontes altamente exclusivas para fazer as afirmações acima com tanta convicção. Na avaliação do jornal ?investimentos, crédito e emprego atingiram níveis não vistos há décadas e o consumo está crescendo no mesmo passo da popularidade do presidente?, que deixará o cargo proclamado como ?o presidente do grau de investimento?. Com visível ironia, o FT fez uma analogia com a pessoa do antecessor de Lula no cargo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em função dos problemas enfrentados no setor de energia deixou o cargo marcado como o ?presidente do apagão?.

Por outro lado, se o vento sopra a favor de Lula, uma alentada fatia da herança maldita do mensalão trouxe a paralisia do Congresso Nacional, fato que está atrapalhando o ritmo dos planos de desenvolvimento econômico. Além disso, o jornal britânico voltou a citar o que os economistas consideram o maior entrave ao processo de crescimento duradouro, a redução da dívida pública e a liberação de recursos para investimentos. Um lembrete importante também apareceu na matéria: ?Os gastos públicos, no entanto, crescem a uma taxa anual de 9,4%, cerca de duas vezes mais do que a taxa de crescimento anual do País?. O analista convidado a opinar sobre o item específico explicou a situação decorre da ?ânsia do governo em garantir a maioria nas duas Casas do Congresso?.

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O governo viu-se obrigado a aumentar o número de ministérios para ofertar empregos ao alarmante contingente de aliados. No primeiro mandato, a base política de Lula era formada por 11 partidos, mas atualmente aumentou para 14. Mesmo assim, o Congresso não consegue debater temas essenciais como as reforpor causa da quantidade de medidas provisórias utilizadas pelo governo para aumentar os gastos públicos. No ano passado, as medidas provisórias deram ao governo a possibilidade de gastar mais R$ 25 bilhões, mesmo que a Constituição estipule que o instrumento legal só pode ser invocado em tempos de guerra, calamidade pública ou revolta popular.

A forte demanda mundial por commodities foi um fator decisivo para o excelente desempenho da economia brasileira nos últimos anos. O cenário não deve sofrer alterações drásticas a curto prazo e, mesmo com modificações pontuais, o FT concluiu que ?Lula terá sido sortudo o bastante e conseguido eleger seu sucessor?. A conferir.

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