Juro alto não é bom para ninguém. Nem mesmo para os bancos, que passam a compensar a queda no volume do crédito concedido com a elevação dos juros cobrados. Coisas da lei universal da oferta e da procura, não escrita, mas sumulada e seguida em todas as operações comerciais do mundo globalizado. Responde-se, assim, à crítica do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, na antevéspera de outra decisão do Copom sobre a queda dos juros básicos, a taxa Selic. O pessoal da poderosa Febraban – a federação dos bancos -classificou o discurso sobre os juros do principal articulador do governo de Lula como político. Isto é, destituído de verdade e carregado de simbolismo. Trocado em miúdos, coisa que o povo gosta de ouvir.

À conta do debate levantado, revela-se agora que a principal fonte de renda dos bancos brasileiros não está nos ganhos de tesouraria – como sugeriu Dirceu – e, sim, nas operações de crédito. Mais especificamente, no spread, que significa a diferença entre o custo de captação do dinheiro e a taxa cobrada dos clientes. Provavelmente o que o ministro queria dizer. Ou usura da braba, situada acima dos 57% – coisa para dar água na boca de qualquer agiota. No debate sobraram farpas para o governo, como convém e precisa.

Mas deixemos de lado essas minudentes discussões para ir ao que interessa. Isto é, ao crédito mais barato aludido por José Dirceu. O governo Lula – e que ninguém conteste isso -está tentando fazer a sua parte ao bolar essa nova modalidade de empréstimo que vem pendurada na folha de pagamento com as garantias necessárias em caso de rescisão (30% das verbas rescisórias ficam obrigatoriamente vinculadas à quitação parcial ou total do débito).

Além de simplificar tudo, o fato inicialmente gera a impressão de aumento salarial (coisa sonhada por todos) para o trabalhador endividado. A própria Febraban reconhece que o mais novo produto dos bancos – o sistema de acesso ao crédito mais barato com desconto direto na folha – vai criar grande competição entre as instituições financeiras. Mesmo que os empregadores passem a cobrar uma taxa do funcionário para cobrir os custos de administração da folha de pagamento (e ninguém contestou isso), a medida trará vantagem na contabilidade final. Também para os bancos há vantagens. Eles passam a ter a automática garantia, ou aval, da empresa. Uma rede bancária nacional já anunciou uma linha de crédito com juros mensais de 2% (o normal, por aí, vai entre 4% e 6%) para pagamento em 12 vezes.

Na área do novo sindicalismo advogado por Lula, há euforia. Luiz Marinho, presidente da CUT, reivindica a autoria da proposta, que “vai tirar muito trabalhador do sufoco”. Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, anuncia um verdadeiro leilão entre bancos na busca de melhores taxas. Pelas normas estabelecidas, os sindicatos podem negociar as condições do crédito diretamente com os bancos. Mesmo no caso de entendimentos feitos pela empresa, o negócio final tem que passar pelo crivo do sindicato. Ninguém falou, mas se a empresa pode cobrar taxa extra, não faltará entidade sindical achando também uma forma de engordar seu caixa. Afinal, por muito menos sindicatos geralmente cobram pedágio…

Não faz mal. Importante mesmo é aumentar o volume do crédito que, em todo o País, não passa de pífios 24% (no Chile chega a 67%) do Produto Interno Bruto – PIB. Com mais crédito, as pessoas compram mais, aquecem a economia e são forçadas a trabalhar mais para pagar. Está começando assim, como num sonho de Natal, o espetáculo do crescimento prometido pelo presidente Lula antes da metade do ano.

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