O presidente Lula, com certeza, ficou muito contrariado ao saber que seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá, tinha sido indiciado pela Polícia Federal na operação que visa combater a máfia dos bingos. Vavá foi acusado de tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio no Judiciário. A polícia chegou a pedir a sua prisão na Operação Xeque-Mate, mas a Justiça indeferiu o pedido. Foi, sem dúvida, uma situação constrangedora para o presidente do Brasil, não só porque é chefe de Estado, mas ainda em razão de que visitava a Índia e lá procurava realizar acordos bilaterais. Lula foi tratado pelas autoridades indianas com excepcionais deferências. Concederam-lhe o prêmio Nehru, honraria só entregue antes a Nelson Mandela e à madre Tereza de Calcutá. Lula era reconhecido por seus programas contra a fome.
Ser igualado, nem que seja no merecimento de uma homenagem, ao líder sul-africano e à freira que dedicou toda a sua vida a ajudar pobres e doentes, era bem mais do que Lula poderia esperar. E muitíssimo mais do que os brasileiros, mesmo seus admiradores, imaginariam que merecesse. Há os que lembram que ?a popularidade, freqüentemente serva de pessoas indesejáveis, não é sinal infalível de virtude nem de inteligência?. Esse pensamento é do próprio Jawaharlal Nehru (1889-1964), cujo nome dá o título à homenagem recebida pelo presidente brasileiro. Mas essa invocação do pensamento do grande Nehru, só pode sair de oposicionistas demasiadamente críticos.
Da Índia, Lula foi para a Alemanha participar, como convidado, da reunião dos países mais ricos do mundo. Nesses ambientes, e tratado com tanto respeito, a notícia da quase prisão e do indiciamento do seu irmão deve ter-lhe caído como uma bomba.
Sobre o assunto, o presidente brasileiro falou muito pouco, dizendo que responderia às perguntas da imprensa quando chegasse ao Brasil. Chegou a irritar-se com a insistência dos jornalistas. Não obstante o constrangimento, mostrou solidariedade e reconhecimento fraterno ao testemunhar que seu irmão mais velho, o Vavá, é uma pessoa muito boa, que gosta de ajudar todo mundo e que não acreditava que tivesse cometido os erros que lhe imputavam.
Aqui, silenciou sobre o assunto. Mas seus porta-vozes negaram que Vavá tivesse realizado tráfico de influência no Executivo e explorado prestígio no Judiciário, embora gravações de telefonemas o comprometam. A técnica de defesa foi desqualificar Vavá, dizendo que se trata de um homem simples, inculto, que nem teria capacidade para praticar tais crimes. Agora a coisa se complica, pois o próprio Vavá afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que, numa conversa com Lula, fez ?uma sondagem para ver se havia possibilidade de colocar umas máquinas (de terraplenagem) para trabalhar na empresa Vale do Rio Doce?. E que Lula rechaçou, dizendo não admitir esse tipo de coisa.
No mesmo dia em que teria conversado com Lula, Vavá falou pelo telefone, e a Polícia Federal gravou o diálogo, com o ex-deputado Nilton Cezar Servo, apontado como um dos líderes da máfia dos caça-níqueis. Na conversa, Vavá diz que ?o homem (Lula) esteve aqui hoje?. Servo pergunta: ?Falou com você??. Vavá responde: ?Conversou. Eu falei para ele sobre o negócio das máquinas lá. Ele disse que só precisa andar mais rápido?. As máquinas, que seriam de terraplenagem, estavam sendo discutidas com um dos chefes da máfia dos bingos. E a negativa de Lula não é confirmada.
Para o bem e a confiabilidade do governo, é preciso que essa solidariedade fraterna fique provada. E que seja mútua. De outra forma, Lula está sendo efetivamente envolvido.