Soldado norte-americano se nega a voltar para a guerra no Iraque

O soldado norte-americano nascido na Nicarágua Camilo Mejía, filho do cantor Carlos Mejía Godoy, se entregou ontem às autoridades militares após ter-se negado a voltar ao Iraque. Mejía, de 28 anos, se rendeu a dois policiais militares que protegiam a entrada da Base da Força Aérea de Hanscom, em Massachusetts, onde recorreu acompanhado de seu advogado, Louis Font.

O soldado esteve no Iraque de março até outubro, depois voltou aos Estados Unidos com duas semanas de permissão, mas em seguida não se reintegrou à sua unidade. “Fui ao Iraque e era um instrumento de violência. Agora decidi me converter em um instrumento de paz”, afirmou Mejía em uma entrevista coletiva antes de se entregar, acompanhado de opositores à guerra.

O nicaragüense afirmou que se declarará objetor de consciência e pedirá para ser dado baixa do Exército, mas o comandante de sua unidade poderia apresentar ações contra ele ou reintegrá-lo ao corpo. Mejía, um residente permanente dos Estados Unidos, mas não cidadão deste país, foi membro do Exército durante três anos e estava há cinco anos na Guarda Nacional ? um corpo de reserva ? quando sua unidade foi ativada.

Seus pais, Maritza Castillo, uma ativista contra a guerra, e Mejía Godoy, um dos compositores e intérpretes mais famosos de Nicarágua, o acompanharam ontem a Massachusetts. Mejía Godoy começou sua carreira musical recuperando canções tradicionais e folclore nicaragüenses, para depois se transformar no principal cantor revolucionário durante a época sandinista em seu país. Ele conseguiu seus maiores sucessos internacionais à frente do grupo “Carlos Mejía Godoy y los dos Palacagüina”.

Protestos nos EUA

Ainda ontem, um grande grupo de manifestantes, incluindo familiares de soldados mortos no Iraque, protestou diante da Casa Branca para exigir o fim da ocupação norte-americana do Iraque. O protesto ocorreu dias antes do primeiro aniversário do início da invasão do Iraque, em 20 de março de 2003. Os manifestantes leram por um alto-falante os nomes dos soldados e civis mortos na guerra e em seguida fixaram a lista em um caixão. O grupo também lembrou as afirmações do vice-presidente, Dick Cheney, sobre a presença de armas de destruição em massa no Iraque, o principal argumento utilizado para lançar a guerra. As armas não foram encontradas. “É preciso honrar os mortos e terminar esta guerra”, gritavam os manifestantes a medida que se aproximavam do cordão policial diante da Casa Branca. “Perdi meu irmão no Iraque. Tinha 33 anos”, disse John Walker, um dos manifestantes. “Esta guerra não tem justificativa”.

O protesto ocorreu um dia após outra manifestação contra a guerra no Iraque, que reuniu centenas de pessoas diante da base aérea de Dover (Delaware), onde pousam os aviões militares com os corpos dos militares norte-americanos mortos no Iraque. No total, 274 militares norte-americanos já morreram no Iraque desde o fim das principais operações militares de agressão àquele país, declarado pelo presidente George W. Bush em 1º de maio passado.

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