O sargento americano acusado de ordenar a execução sumária de três detentos iraquianos deu a seus subordinados a opção de participar ou não do massacre antes de promovê-lo, afirmou hoje um soldado durante audiência de uma corte militar que julga o suposto líder da chacina. O recruta Juston Graber depõe apenas um dia depois de outros dois soldados terem acusado o sargento Ray Girouard de ter ordenado a eles que soltassem os três homens e abrissem fogo enquanto as vítimas corriam.
Girouard é o militar de mais alta patente da 101ª Divisão Aerotransportada do Exército dos Estados Unidos a ser julgado pela execução de 9 de maio do ano passado, ocorrida num ataque americano a um suposto campo de treinamento de rebeldes em Samarra, no Iraque. Ele é acusado de ter ordenado a seus subordinados que executassem os iraquianos e tentassem acobertar o crime plantando indícios de legítima defesa. Caso seja condenado, Girouard estará sujeito à pena máxima de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional.
Graber disse hoje que Girouard convocou integrantes de seu esquadrão para uma reunião em Samarra em maio do ano passado e deu a eles a opção de participar ou não do assassinato dos detentos depois que eles fossem libertados. Em janeiro, Graber declarou-se culpado de acusação de agressão qualificada por ter baleado um detento ferido. Ele foi sentenciado a nove meses de reclusão. De acordo com a versão de Graber, Girouard disse durante a reunião que os soldados William Hunsaker e Corey Clagett executariam os detentos.
Hunsaker e Clagett testemunharam ontem e declararam-se culpados de assassinato e cooperaram com a promotoria. Eles foram sentenciados a 18 anos de reclusão numa prisão militar. "O sargento Girouard disse que Clagett e Hunsaker queriam matar os detentos", prosseguiu a testemunha. Graber relatou que, depois dos disparos, caminhou até os homens e viu que um deles ainda estava vivo. "Um deles cuspia sangue e estava agonizando. O sargento Girouard disse então: ‘vá em frente e acabe com o sofrimento dele’. Eu achei que fosse a coisa certa a se fazer", contou. Graber ainda deverá ser interrogado pela advogada de Girouard hoje.
Ontem, Hunsaker disse perante o tribunal militar que ele e Clagett levaram os detentos para um local fora da vista de outros soldados. Hunsaker relatou ter tirado as vendas dos detentos e olhado nos olhos deles. A seguir, em árabe, Clagett ordenou a eles que saíssem correndo. Clagett admitiu ontem à noite que plantou uma faca na cena do crime para fazer com que parecesse que os detentos tentaram atacar os soldados. Outros soldados do esquadrão disseram ter ouvido falar do plano de Girouard para matar os detentos, mas não concordaram em participar.
Os soldados disseram inicialmente que receberam do coronel Michael Steele, comandante de brigada, a orientação de executar sumariamente todos os homens em idade militar. Steele nega a acusação, mas invocou seu direito de não testemunhar. Um juiz determinou na semana passada que Steele não será obrigado a depor, mas os advogados de defesa querem fazer uma acareação entre as testemunhas para saber como as ordens de Steele foram entendidas.