Houve tempo em que a ciência e a igreja consideravam a terra plana. E quem entendeu que era redonda foi para o inferno compulsoriamente, executado pelos defensores da crença oficial. Na Inquisição, muita gente foi torturada e levada à fogueira por afirmar coisas que a religião e a política não aceitavam. Galileu escapou porque fez figa, piscou o olho esquerdo e desdisse que a Terra era redonda.
Não há como descartar a política e a religião, tão importantes são na condução dos passos da humanidade. Mas há coisas que nos parece devam ser, antes de mais nada, examinadas pela ciência, pois esta, sem cores partidárias nem credos religiosos, pode indicar a verdade.
O mundo é mais velho do que dizem e muito mais do que parece. A ciência prova, embora haja quem insista em dar-lhe apenas alguns poucos milhares de anos, com aquela estória da cobra, da Eva e do Adão, respeitável lenda religiosa que a ciência pecaminosamente já desmentiu com ênfase.
Devemos ou não plantar soja transgênica? Ou outros transgênicos? Tratado no Brasil como problema político, o assunto já se prestou a uma medida provisória que, de tão provisória, expirou e agora foi novamente objeto de outra medida provisória, arrancada do presidente Lula depois de uma luta insana entre o ministro da Agricultura e a do Meio Ambiente. A senadora Marina Silva chegou a derramar lágrimas para impor seu ponto de vista contra os transgênicos. Enquanto isso, não só plantam transgênicos no mundo como há uma tendência de que, no caso da soja em especial, as sementes cientificamente modificadas ganhem terreno e mercado, com possibilidades de que a soja natural se transforme em velharia sem mercado. Há mercado para transgênicos ou não. Sob o ponto de vista de saúde pública, o assunto parece-nos exclusivo da ciência. Só ela pode dizer se soja transgênica faz bem ou mal e, até agora, tem dito que mal nenhum acarreta. Sob o ponto de vista econômico, o mercado está com a palavra.
E se a palavra é do mercado e a ciência não desaconselha os transgênicos, que os nossos agricultores plantem o que bem entendam. E certamente plantarão o que o mercado pede, para não perder suas rendas agrícolas.
O que preocupa é a maneira como o nosso governo trata o assunto. Ele é abordado quase que como uma questão apenas ideológica. A esquerda é antitransgênicos e as forças conservadoras querem a transgenia. Não dá para explicar. Também se discute o assunto na base de vai sair, não vai sair, deixando os nossos produtores de sementes e agricultores, na hora do plantio, sem saber o que fazer e correndo o risco de perderem safras e seus investimentos, muitas vezes resultantes de empréstimos que não serão transgênicos, mas cobrados compulsoriamente.
Há na Câmara Federal uma lei, a da Biossegurança, já aprovada pelo Senado, que trata deste e de outros assuntos da mesma natureza. Está na gaveta, pois embora os chamados esforços concentrados dos nossos parlamentares, eles não estão fazendo absolutamente nada. Existem diversas outras medidas provisórias na fila e leis importantes a serem apreciadas e votadas. No final do ano, certamente alegando assuntos importantes e inadiáveis, é muito provável que se faça convocação extraordinária, quando os parlamentares recebem seus vencimentos em triplo.
Saiu, depois de choros e velas, a medida provisória admitindo, com severas restrições, o plantio da soja transgênica. Foi um tal de vai, não vai, que mais uma vez provou uma das características mais evidentes deste governo: a indecisão.