Brasília – Sobrou dinheiro para financiamento da habitação no ano passado, particularmente no segmento popular em que a renda mensal das famílias é de até cinco salários mínimos. Apesar do esforço para conseguir contratar um orçamento de R$ 10,91 bilhões, praticamente o dobro do ano anterior, a Caixa Econômica Federal fechou 2005 sem conseguir comprometer todo o recurso com o financiamento habitacional.
Pelos dados da Caixa, foram contratados até o início de dezembro R$ 6,53 bilhões para a compra ou construção de 342.890 unidades habitacionais. Outros R$ 1,7 bilhão podem ter sido contratados até o final do mês passado. Em 2004, foram emprestados cerca de 12% menos.
Segundo a diretora de Habitação da Caixa, Márcia Kumer, o principal problema para se conseguir empenhar um orçamento dessa magnitude é que a maioria dos projetos, principalmente os voltados para a população de baixa renda, começa literalmente do zero. As prefeituras precisam fazer o levantamento da demanda, cadastrar os futuros mutuários – muitos deles sem CPF e outros documentos exigidos – fazer o projeto, arrumar a infra-estrutura do conjunto habitacional e só aí dar início à obra e ainda cumprir as exigências para pegar o dinheiro. Muitas vezes, a Caixa, que deveria ser apenas o agente financeiro, colabora em todo o processo.
"Financiamento habitacional para a faixa de renda de até cinco salários mínimos não é um negócio de balcão, onde o cliente vem com todos os papéis só para pegar o empréstimo. É uma engenharia complicada, que leva tempo para ser montada e executada", argumenta a diretora da instituição.
Ela observa que a Caixa, sozinha, ainda domina o mercado. Pelos dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) todos os bancos privados juntos emprestaram, em 2005, pouco mais de R$ 3,5 bilhões, o suficiente para o financiamento de 43.156 unidades habitacionais. O setor estima que os recursos para financiamento habitacional da classe média tenha atingido R$ 4,5 bilhões no final do ano passado. Em termos de unidades habitacionais financiadas, foram pouco mais de 10% do que a Caixa.
Produção
Para os empresários da construção civil, a "sobra" de dinheiro também é explicada pela política pública que não priorizou a construção de imóveis novos. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, disse que houve um "excessivo" direcionamento dos financiamentos habitacionais com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) à aquisição de materiais de construção, imóveis usados, lotes urbanos, reforma e ampliação. Na análise da CBIC, isso prejudicou o financiamento da produção de imóveis novos. "Fato que não ajuda a diminuir o déficit habitacional, nem criar mais empregos e renda na economia", resume Simão.
A diretora da Caixa, por outro lado, argumenta que é pequena a oferta de imóveis novos com valores mais reduzidos. Isso gera um gargalo na liberação dos financiamentos, que precisam ser compatibilizados com os imóveis disponíveis. Numa pesquisa superficial, a Caixa já detectou que existe demanda para empréstimos em torno R$ 40 mil, só que praticamente não existem imóveis com esse preço no mercado. Na média, os empréstimos da Caixa giram em torno de R$ 16 mil, devido ao peso que o financiamento com recursos do FGTS tem no financiamento global da instituição. Nos bancos privados a média dos empréstimos gira em torno de R$ 80 mil.
Para conseguir, em 2006, emprestar todo o dinheiro disponível – só do FGTS serão R$ 11 bilhões – a Caixa pretende aprofundar o estudo sobre a demanda. A instituição quer mapear todo o País e fazer uma ponte com os construtores, para que o setor imobiliário passe a ofertar imóveis que atendam o perfil da demanda tanto em tamanho, localização e, principalmente preço.