Só dezoito?

A Comissão de Ética da Câmara dos Deputados recomendou a cassação, por quebra de decoro parlamentar, de apenas dezoito deputados federais, por enquanto. Pela força da tempestade que sacode a política nacional, a descoberta de que o mensalão existiu, embora não com freqüência exatamente mensal nem com o pagamento de importâncias iguais a todos os corrompidos, é certo que a opinião pública esperava mais. Ou melhor, desejava e deseja que mais políticos tenham cassados os mandatos que lhes foram outorgados nas urnas. Isso, embora ainda paire no ar um cheiro de pizza que nos faz confiar desconfiando sempre. O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, do PP pernambucano, ameaça pôr a massa no forno, sustentando a tese de que só à mesa da Casa e aos partidos políticos compete a proposição das cassações. E mesa ele entende que é ele próprio. Quanto aos partidos, só o PL propôs cassação. Foi a de Roberto Jefferson, requerida poucos dias antes de a própria liderança liberal confessar que a agremiação do vice-presidente da República recebeu R$ 10 milhões do PT. Um mensalão tamanho família. Em seguida, Valdemar Costa Neto renunciou ao seu mandato para não ficar inelegível por oito anos.

O primeiro indicado para ser cassado é o homem que pôs a cara a bater, denunciando as negociatas: Roberto Jefferson. Não havia como evitar que fosse indicado para cassação, pois confessou que recebeu um gigantesco mensalão de R$ 4 milhões e não diz para quem deu o dinheiro. Se é que deu, pois pode ter escondido numa gigantesca cueca, adequada à sua antiga obesidade e ganância. De qualquer forma, o fato é irônico. Ele, que inaugura a lista dos cassáveis e provavelmente a dos cassados, foi o herói mau caráter que jogou titica no ventilador, denunciando destemidamente a compra de apoios pelo governo, pelo PT, além de outras negociatas. E, de frente, desafiou até o todo-poderoso José Dirceu, a quem Jefferson indicou como chefe da gangue de corruptos e corruptores.

O povo sabe que não se resume só a dezoito deputados a ala dos corruptos. Além de serem muito mais, há os corruptores que, com ou sem mandatos obtidos das urnas, merecem castigos exemplares. Dirigentes do PT, intermediários, gente do mercado financeiro, empresários e empresas e dizem que até governos estrangeiros que foram requeridos a colaborar com a montanha de dinheiro que elegeu o atual governo federal, muitos estaduais e municipais. As cassações serão votadas pelo plenário da Câmara e em sufrágio secreto. Isto permitirá que absolvições sejam obtidas… nem que tenham de ser compradas. Parece evidente que o castigo será apenas para acalmar a opinião pública. Poucos e brandos.

Se, pelo menos, de tudo resultarem reformas conseqüentes, capazes de evitar que fatos como os que hoje tornam pútrido o cheiro de Brasília, e mecanismos capazes de fiscalizar eleições e o uso do dinheiro público, mesmo que esteja no poder um presidente omisso, desligado, ou que costuma dar de ombros para o que ao seu redor está acontecendo, já terá valido a pena. Melhor ainda: que tudo isso seja coroado com uma redução drástica do número de parlamentares, pois eles efetivamente são demasiados para legislar. E caros demais para os cofres da nação.

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