São Paulo ? Milhares de deficientes visuais conseguiram entrar no mundo da computação graças a um software genuinamente brasileiro desenvolvido pelo Núcleo de Educação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Batizado de Dosvox, o sistema operacional é usado atualmente por mais de 10 mil deficientes visuais e foi um dos finalistas do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social em 2005, entregue no fim do ano.
O Dosvox é um sistema operacional desenvolvido especialmente para as pessoas cegas e permite ler e escrever textos, acessar a internet, enviar e receber e-mails e até mesmo se divertir com jogos virtuais. De acordo com Antônio Borges, coordenador do projeto e professor da UFRJ, a idéia do programa nasceu há doze anos, a partir da experiência de alunos deficientes na universidade.
"Há muitos anos existe o desejo dos deficientes visuais de terem acesso ao computador, mas infelizmente os programas que existiam eram programas caríssimos, que custavam alguns milhares de dólares. A nossa idéia foi criar alguma facilidade para os alunos da UFRJ e que os nossos alunos pudessem utilizar o computador de forma gratuita, de forma simples", explicou Borges.
Segundo o coordenador do projeto, o sistema funciona através de um sintetizador de voz que permite ao usuário escutar tudo o que está escrito na tela e saber o que está digitando no teclado. O programa identifica as palavras e as pronuncia de modo compreensível para o deficiente visual. "Ele [o computador] fala o português, ele tem um diálogo muito simples de ser aprendido. Uma pessoa cega com uma cultura bastante baixa consegue usar perfeitamente o computador", diz Borges.
Além de incluir os deficientes visuais no mundo da informática, o Dosvox também permitiu que as pessoas cegas compartilhassem os mesmos textos com pessoas que enxergam sem precisar da técnica de braile. "O braile é uma coisa maravilhosa, mas a maioria das pessoas não sabe braile. Com o Dosvox a pessoa consegue escrever e ler de forma absolutamente convencional e participação dela na sociedade aumenta imensamente."
De acordo com Borges, o sistema operacional possibilitou mudanças na vida de muitos deficientes visuais, como interação acadêmica e oportunidades no mercado de trabalho, como na área de telemarketing.
Para o coordenador do Dosvox, só falta conscientizar os empregadores. "Não basta só a pessoa deficiente estar capacitada. Os empresários, as pessoas que dão a oportunidade de trabalho têm de confiar que a pessoa deficiente visual é capaz de produzir, é capaz de ser uma pessoa tão eficiente como qualquer outra. Quem dá um emprego para uma pessoa deficiente visual não se arrepende", avaliou Borges.
Algumas empresas já utilizam o sistema Dosvox. "Normalmente, as maiores oportunidades de trabalho hoje ainda estão nas atividades mais simples, mas há diversos advogados cegos, diversas pessoas que trabalham na área de terapia que utilizam o computador para fazer o controle dos clientes e assim por diante", disse o professor da UFRJ.
Atualmente o Dosvox está em sua quarta versão e tem mais de cem aplicativos para os deficientes visuais. O programa roda em plataformas Windows e Linux e pode ser baixado gratuitamente na página da internet http://intervox.nce.ufrj.br.