Brasília (AE) – As investigações da CPI dos Correios sobre a participação do BMG no esquema montado por Marcos Valério e Delúbio Soares podem revelar a existência de um amplo sistema de propinas relacionado às operações de crédito consignado realizadas por pequenos bancos com órgãos da administração pública. Denúncias recebidas pelo próprio governo, antes do atual escândalo, indicam que algumas instituições privadas podem ter pago pelo espaço privilegiado que receberam do INSS, da Câmara e do Senado.

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No Ministério da Previdência, uma auditoria interna busca apurar se houve favorecimento ao BMG, primeiro banco privado autorizado a conceder empréstimo com desconto em folha para aposentados e pensionistas. As suspeitas que pairam sobre a forma de seleção das instituições já levaram dois ex-chefes de gabinete da Presidência do INSS, José Antônio Godas e Paulo Roberto André, a serem silenciosamente afastados do cargo, em poucos meses, entre dezembro de 2004 e abril de 2005. Os dois eram ligados ao ex-presidente do INSS Carlos Bezerra, do PMDB.

Enquanto Godas participou do processo de credenciamento dos primeiros pequenos bancos privados autorizados a operar crédito consignado no INSS, a partir de agosto de 2004, André esteve à frente do Gabinete num período em que alguns grandes bancos passaram a tentar fechar o mesmo tipo de convênio. É o caso do Santander e do HSBC. Os dois bancos esperaram vários meses para receber a autorização, que só saiu no dia 7 de abril de 2005, depois de o ministro da Previdência, Romero Jucá, saber dos boatos de propina. No dia seguinte à assinatura dos convênios, em 8 de abril, o chefe de gabinete do INSS foi substituído.

As suspeitas sobre o favorecimento ao BMG decorrem das modificações que foram feitas no Regulamento da Previdência Social para permitir que o banco mineiro e outras pequenas instituições especializadas nesse tipo de empréstimo pudessem oferecer o serviço aos aposentados do INSS.

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Na Câmara, apenas cinco bancos foram autorizados a operar, e a escolha deles passou em 2002 pela caneta do então primeiro-secretário, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). No Senado, a seleção foi comandado em 2003 pelo então primeiro-secretário, senador Romeu Tuma (PFL-SP). No início deste ano, descontente com a dificuldade de obter autorização, um dos maiores bancos privados do País chegou a procurar um importante líder do Senado para se queixar da cobrança de propina, o que levou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), a exigir mudanças no processo.