Brasília – O ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho, afirmou hoje, em depoimento à Polícia Federal, que desempenhava o papel de "mero tarefeiro" do partido não tendo indicado ninguém para ocupar postos governo. Ele disse que, no começo do governo Lula, gerenciava um banco de dados com todos os nomes de petistas candidatos a cargos públicos, mas ressalvou que apenas fazia a triagem dos currículos. A decisão final era dos ministros e dos dirigentes das estatais.
Silvinho revelou, ainda, que realizou o mesmo trabalho em relação aos indicados pelos partidos da base aliada, acompanhando o preenchimento de cerca de sete mil cargos. Ele negou que tenha exercido influência sobre essas pessoas. Também disse desconhecer qualquer detalhe sobre o esquema, operado pelo empresário Marcos Valério de Souza, de arrecadação de dinheiro de empresas privadas que mantêm negócios com as estatais.
Silvinho foi intimado em conseqüência da entrevista publicada pelo "O Globo" na qual afirmou que o esquema montado por Valério tinha como meta arrecadar R$ 1 bilhão com negócios escusos. Um deles consistia na omissão do governo para facilitar a ação do empresário, que pretendia obter ganhos fraudulentos com os bancos Econômico, Mercantil de Pernambuco e Opportunity.
A exemplo do que fizera na véspera na CPI dos Bingos, Silvinho disse que, por se sentir abandonado pelo PT, estava deprimido e abalado quando deu a entrevista. Ele reclamou em especial de não ter sido convidado para o encontro nacional do PT realizado há duas semana e de não ter sido sequer mencionado pelos atuais dirigentes. Para a PF, aparentemente Silvinho quis fazer uma pressão sobre os ex-colegas petistas para não ser esquecido.
A PF quis saber se no R$ 1 bilhão citado na entrevista estariam embutidos recursos desviados dos contratos firmados entre os Correios e empresas privadas. Auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) contataram irregularidades em mais de 60 contratos executados no atual governo. Silvinho disse que não sabe de onde tirou esse valor e acredita que possa ter sido de uma matéria reportagem publicada pela revista "Veja".
O ex-petista negou também que tenha atuado como padrinho de empresas privadas que tinham contratos com os Correios, como a HHP e a Sky Master, conforme disse o ex-assessor da estatal Maurício Marinho, preso em flagrante quando embolsava uma propina de R$ 3 mil. Silvinho admitiu, porém, ter se encontrado "uma única vez" com o dono da Sky Master, Luiz Otávio Gonçalves, no hotel Sofitel, em São Paulo. Segundo o relato de Silvinho, Gonçalves o vinha assediando para ser recebido.
Ele disse que o empresário reclamou por estar sendo prejudicado nos seus interesses nos Correios, devido à ação de um dirigente petista da estatal. Silvinho afirmou que apenas ouviu a reclamação, mas não levou o caso adiante nem interferiu em favor da empresa. O depoimento na PF durou pouco mais de quatro horas e em seguida Silvinho foi ao Ministério Público Federal, onde passou por um novo interrogatório.