Três dias depois de ser apontado pela Polícia Federal como suspeito de haver recebido, dentro do próprio ministério, R$ 100 mil de propina da Construtora Gautama, o ministro Silas Rondeau, das Minas e Energia, entregou nesta sexta-feira (22), por volta das 20h15, a carta de demissão ao presidente Lula. Na carta em que Rondeau pediu demissão, o ex-ministro diz que deixou o cargo para se defender e que ficará à disposição do presidente.
Ele foi pressionado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) a se afastar, visto que não teria como se defender ocupando o cargo de ministro. Sarney é seu principal padrinho político. Ao saber que o PT está de olho no Ministério de Minas e Energia, Sarney apresentou como candidatos à sucessão de Rondeau os nomes de José Antonio Muniz, ex-presidente da Eletronorte, hoje na iniciativa privada, e de Astrogildo Quental, atual diretor Econômico e Financeiro da empresa.
Rondeau reuniu-se à tarde com o presidente Lula, das 15h50 às 17hs, mas o encontro não foi conclusivo. Lula avisou-o de que pretendia continuar as conversas mais tarde. O primeiro encontro foi interrompido para que o presidente se reunisse com o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, para tratar do futuro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na área social.
O senador José Sarney (PMDB-AP) apontou para o presidente Lula e para Rondeau duas saídas. Na primeira, o ministro pediria licença do cargo e tentaria provar a inocência fora do governo; na segunda, simplesmente deixaria o cargo. Em relação à licença, Sarney lembrou a Rondeau e a Lula que, em 1993, apontado pela CPI dos Anões do Orçamento como suspeito de desvio de verbas públicas, Henrique Hargreaves, então ministro da Casa Civil do governo de Itamar Franco, se licenciou e respondeu às acusações de fora do governo. Provou sua inocência e voltou ao cargo.
O próprio Sarney se empenhou muito para que a saída fosse esta. Assim que Rondeau desembarcou em Brasília, na noite de ontem, depois de dois dias de viagem com o presidente Lula pelo Paraguai e Foz de Iguaçu, foi se reunir com o senador, na casa deste, no Lago Sul. O encontro entrou pela madrugada. De acordo com uma testemunha, Rondeau jurou a Sarney que é inocente. E mais: que foi ele mesmo quem forneceu à Polícia Federal a fita com o registro da entrada no prédio do Ministério de Fátima Palmeira, representante da Gautama, que se encontrou com Ivo Almeida Costa, assessor especial do ministro. Nesse encontro, Fátima teria entregue os R$ 100 mil.
Rondeau disse a Sarney que acha a situação absurda, visto que a Polícia Federal está usando contra ele material que o próprio repassou à corporação, a pedido desta. O assessor Ivo Costa, que recebeu Fátima na entrada privativa do ministro, foi preso pela Operação Navalha, da Polícia Federal, que desbaratou um esquema acusado de desvio de dinheiro público e de fraudes em licitações públicas. O assessor especial depôs ontem no Superior Tribunal de Justiça (STJ) – foi solto ao final do depoimento.
Depois de se reunir pela manhã com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tratar da crise com o ministro, Sarney foi ao presidente Lula, no Palácio do Planalto. Levou consigo Renan Calheiros. Os dois almoçaram com Lula. Falaram do problema vivido por Rondeau e disseram que uma saída possível seria a da licença. Ao deixar o gabinete de Lula, Sarney comentou que se o ministro tivesse sorte, a solução seria a licença. Mas não obteve a garantia do presidente. O governo estava dividido. Havia os que defendiam a demissão e os que defendiam a licença.
De acordo com assessores do Palácio do Planalto, no encontro com Sarney e com Renan, a conclusão foi uma só: mesmo que Rondeau seja inocente, a situação dele, no momento, é insustentável. De uma forma ou de outra ele teria de sair. Além do mais, Sarney não quer um protegido que esteja vulnerável a ataques, num momento em que a disputa política o confronta com o grupo do ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares – este também preso pela Operação Navalha da PF.
Colaborou Christiane Samarco
Rondeau confirma que entregou o cargo a Lula
O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, confirmou por meio de nota à imprensa que entregou seu cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Cargo que honrosa e dedicadamente exerci por sua confiança", diz Rondeau na abertura da nota.
O ministro também afirmou na nota que está deixando o governo "para impedir que o setor energético, fundamental para o desenvolvimento do País, seja prejudicado e que a imagem do governo seja de algum modo afetada". O ministro reafirma "completa e absoluta inocência" em relação às denúncias contra ele. "Na certeza de que tudo será esclarecido, provando a injustiça e a crueldade das mentiras e insinuações divulgadas a meu respeito, que atingiram minha honra".
Rondeau também afirma que "cada segundo que dedicou ao exercício de suas funções foi pautado por valores "éticos, morais e cristãos". "Nunca, em momento algum, jamais pratiquei qualquer ato que não fosse orientado pelos princípios essenciais, que sempre nortearam a minha vida, com absoluta honestidade e compostura.
Ele também diz, na nota, que sua vida de técnico, "trabalhador, de vida modesta, respeitado no setor elétrico, que escolhi por profissão e ao qual me dediquei inteiramente, tem sido marcada pela lisura e honradez".
Em outro ponto da nota, o ministro diz que tudo fez para servir ao governo do presidente Lula e agradece a Deus a oportunidade de tê-lo conhecido (Lula) de perto e com ele trabalhado pela grandeza do Brasil. "É com gratidão que a ele, Lula, dirijo, lamentando profundamente a ocorrência desses fatos.