Com a descoberta dos prejuízos milionários dos fundos de pensão, a CPI dos Correios ganha fôlego político e abre uma nova linha na investigação sobre de onde veio e como foi distribuído o dinheiro que abasteceu partidos e campanhas políticas. Para isso, será necessário quebrar sigilos bancários das empresas e pessoas físicas que mais lucraram com as perdas dos fundos e convocar a depor os gestores dos fundos, os sócios das corretoras e as pessoas beneficiadas.
Os requerimentos de convocação dessas pessoas serão votados amanhã (7). O sub-relator Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) adiantou hoje que os primeiros depoimentos deverão ser dos diretores dos fundos, para explicar quais os critérios que foram utilizados para selecionar as corretoras e os investimentos que, ao longo do tempo, se revelaram péssimos negócios.
"Não se sabe ainda se os investimentos tinham ingerência apenas dos fundos ou também das corretoras", diz ACM Neto. "Depois desta apresentação, para mim ficou muito claro que houve um monumental esquema de corrupção e que vem de longa data", acrescentou a deputada Denise Frossard (PPS-RJ). "O caso da Prece (fundo de pensão da Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro) – prosseguiu ela – é um escândalo. Ao que estou vendo, serviu a vários esquemas e não apenas ao valerioduto. Me senti como a Alice no País das Maravilhas: ou o abismo é muito fundo ou o abismo não tem fundo. Agora precisamos saber a serviço de quem estavam os beneficiários".
O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) diz também não ter mais dúvidas de que os prejuízos dos fundos, obtidos com o que ele chamou de "operações engenhosas", serviram para "levar dinheiro para mãos de pessoas que não tinha nenhuma ligação com fundos de pensão".
Por causa da disputa política entre oposicionistas e governistas, ACM Neto eliminou o termo "relatório" para o documento e preferiu chamá-lo de prestação de contas. Assim, o trabalho não precisará ser votado pelos integrantes da CPI. "O relatório final é do deputado Osmar Serraglio", lembrou ele.
Prejuízos
Os prejuízos de quase R$ 800 milhões revelados hoje referem-se apenas a dois tipos de operações financeiras investigadas pela força-tarefa que reuniu técnicos de seis instituições. No caso, investimentos em mercado futuro (derivativos) e em títulos públicos. Mesmo neste segundo item, não foram apuradas todas as operações. O pente-fino agora será feito em investimentos imobiliários, títulos privados e nas negociações de ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Segundo ACM Neto, é pouco provável que sejam encontrados resultados atípicos na Bovespa, porque "é o mercado mais controlado, com poucas ações despadronizadas".