O shopping do Grupo Silvio Santos na Bela Vista, em São Paulo, deve sair do papel no segundo semestre mas virá acoplado à revitalização do vizinho da frente: os baixos do Viaduto Júlio de Mesquita Filho, parte da Ligação Leste-Oeste. A proposta será levada, nos próximos 15 dias, ao Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) e precisa ser aprovada também pela Prefeitura. Segundo o DPH, ela é uma espécie de compensação pela demolição de duas casinhas tombadas que existiam no terreno, com entradas pelas Ruas Jaceguai, da Abolição e Santo Amaro. Segundo o grupo, a melhoria do entorno sempre fez parte dos planos. O shopping vai custar R$ 75 milhões
A empresa precisa reapresentar, ainda, a modificação do paredão dos fundos do shopping, que dá para um conjunto de casas pedida pelo DPH. "Já está bem diferente, com as escadas de incêndio e a posição dos cinemas", diz o arquiteto Francisco Fanucci, que assina o projeto com Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki. Ele acredita que a aprovação total do empreendimento deva sair em seis meses. Antes de começar a obra, serão demolidos dois predinhos, um na Abolição e outro na Jaceguai. Já foi derrubada a Sinagoga Ohel Yaacov, de 1924.
A recuperação dos baixos do viaduto, entre a Praça Pérola Byington e a Rua Major Diogo, receberá R$ 2 milhões de investimento. "Vai receber iluminação, paisagismo e incentivo a atividades, como floricultura e cafés, o que fará as pessoas voltarem a circular pela rua", diz o diretor da Sisan Empreendimentos Imobiliários, Eduardo Velucci, responsável pelo empreendimento. O projeto inclui a revitalização de um sacolão que já funciona no local. Na parte próxima da Major Diogo, altura da Casa da Dona Yayá, a intenção é desativar o estacionamento de ônibus e, em seu lugar, fazer uma praça, com atividades como pista de skate e biblioteca com café.
No vizinho Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa promete resistir, ir à Justiça, fazer de tudo para evitar que o shopping interfira na história de seu espaço. Ele tem outros planos para o terreno. "Quero conversar com o Silvio Santos de novo. Tenho certeza de que ele pode bancar minha proposta de fazer ali um teatro de estádio, universidade cultural e oficinas de florestas", afirma. O empresário e o diretor já se encontraram em 2004 e o projeto passou por mudanças.
O designer gráfico Antônio Augusto de Toledo Pisa prefere o shopping. "Esta parte do bairro está abandonada. A criminalidade é enorme." Morador do prédio vizinho ao Oficina, Pisa acusa Zé Celso de ser egocêntrico. "Canso de ficar sem dormir porque alugam o espaço para eventos." A vendedora Déia Augusta de Oliveira Pires tem medo de perder a tranqüilidade na Rua do Bexiga. Ela, porém, aprova a revitalização dos baixos do viaduto. "As crianças não têm onde brincar."