Um cidadão que se chama Severino é, pelo próprio nome, importante, tanto mais se for nordestino como o presidente da Câmara dos Deputados. É que Severino é um nome típico daquela região e são tantos e ilustres os nossos conterrâneos que ostentam esse nome – que quase se iguala em prestígio ao Silva -, que já conta até com um presidente da República.
Ser Severino e ainda presidente da Câmara dos Deputados é de encher o peito. Estourar de vaidade e sentir-se onipotente para nomear a família toda no serviço público, peitar o Poder Executivo, procurar forçar maiores salários para deputados e marajás e ainda abarrotar os cofres dos gabinetes dos parlamentares. Com dinheiro do povo, é óbvio.
Mas, sem a intenção de faltar com o respeito ao presidente Severino Cavalcanti, que é uma importante autoridade, apesar dos pesares, vamos ter de concordar que o velho político pernambucano (velho em idade e estilo) está passando dos limites. A última do Severino, infelizmente secundado pelo vice-presidente José Alencar, até aqui tido e havido como um homem de bom senso, é propor que o Copom do Banco Central partilhe com mais alguém, provavelmente com alguma comissão da Câmara dos Deputados ou com ele próprio, Severino, a fixação da Selic, os juros básicos da economia.
Ele entende que o BC tem poderes imperiais em matéria de fixação de juros e que é preciso politizar o assunto, não para diminuir os poderes do Copom, mas para aumentar os dos políticos.
Já há em pauta uma discussão bastante séria e complexa que é a de se o Banco Central deve ser ou não autônomo, um órgão técnico independente dos poderes da República ou precisa se curvar à vontade de bancadas e partidos, ao decidir sobre o preço do dinheiro. Agora, Severino inventa que é preciso um sócio na decisão de fixar os juros e esse sócio deve sair da área política.
Juros são o preço do dinheiro. Dinheiro, meios de pagamento, traduzindo o valor da produção de bens e serviços e sua comercialização. Seu preço depende, obviamente, da lei da oferta e da procura.
Inegável que existe a possibilidade e até a necessidade de politizar a fixação dos juros. Mas é introduzir no debate de tão importante matéria ingredientes de política econômica e não de política partidária ou eleitoral. Não há como tratar de juros retirando da matéria sua essência técnica e não será o presidente da Câmara que vai poder fazer isso. A não ser que desejemos provincianizar de vez este País, ignorando que a economia tem regras que podem ser induzidas ou até conduzidas. Nunca recriadas.
Podem ter razão trabalhadores, opositores, situacionistas ortodoxos e empresários quando sustentam que uma política de juros mais comedidos liberaria investimentos e produziria desenvolvimento econômico. Mas aí é política econômica e não política eleitoral ou eleitoreira. E as bolas-fora dadas, até aqui, pelo Severino, autorizam pensar que o que ele está propondo é política eleitoreira na fixação do preço do dinheiro.
A seguir com tanta ousadia, qualquer dia desses ele vai propor o parlamentarismo, não porque o sistema seja bom ou ruim, mas porque estaria pensando seriamente em ser primeiro-ministro. E por que não?