Brasília (AE) – O presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP-PE), passou a manhã de hoje (17) na sua residência oficial e no início da tarde deveria receber um grupo de deputados aliados para conversar sobre seu futuro. Severino, que deve reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da semana, não deu pistas sobre sua permanência ou não no comando da Casa. Segundo seus interlocutores, a hipótese mais provável é de que renuncie à presidência da Câmara, mas mantenha seu mandato de parlamentar. Os aliados de Severino não descartam a possibilidade, no entanto, de ele se licenciar do cargo. Neste caso o comando da Câmara ficaria com a oposição, nas mãos do primeiro-vice-presidente, José Thomaz Nonô, do PFL de Alagoas.
O eventual pedido de licença foi encarado pelo Palácio do Planalto como uma ameaça e represália ao fato de Lula não ter recebido ontem (16) Severino para um encontro informal. O presidente Lula avisou que só vai receber Severino Cavalcanti no início da semana e depois de um pedido formal de audiência. "Não dá para apostar na decisão que o Severino vai tomar ", resumiu hoje (17) o deputado João Caldas (PL-AL), quarto secretário da Mesa Diretora da Câmara, um dos parlamentares que pretendiam almoçar e passar a tarde deste sábado (17) na Casa do presidente da Câmara. "Mas a qualquer momento ele (Severino) vai tomar uma decisão", completou.
A expectativa é que Severino Cavalcanti tome uma decisão até terça-feira, depois do encontro com o presidente Lula. Ele pretende anunciar sua decisão formalmente em um discurso no plenário.
Aliados do governo trabalham para que Severino renuncie pelo menos ao cargo de presidente da Câmara. Conterrâneos do pepista têm procurado seus familiares para alertá-los de que o melhor é Severino renunciar ao cargo e ao mandato para não ficar "sangrando". Com a renúncia dupla, Severino poderá se candidatar em 2006 novamente à Câmara ou voltar à Assembléia Legislativa de Pernambuco, onde exerceu seis mandatos de deputado estadual. Com a renúncia, Severino também não colocará em jogo o futuro político de seu familiares, principalmente de sua filha Ana, que tem pretensões de disputar uma cadeira na Câmara nas eleições do ano que vem.
O Palácio do Planalto é contra o afastamento temporário de Severino da presidência da Câmara porque teme que o seu substituto, José Thomaz Nonô, venha dar aval a um pedido de abertura de impeachment de Lula. Mas, de olho no cargo, o pefelista tem negado isso e garantido que vai agir com isenção, não atuando como oposicionista no comando da Câmara. Mas, o pedido de licença por 120 dias interessa apenas ao PFL. Parte do PSDB não quer que um pefelista fique com o comando da Câmara sob a alegação de que o PFL hoje já ocupa espaços importantes como a vice-prefeitura de São Paulo, com Gilberto Kassab.
Severino espera ganhar tempo com a sua demora em tomar uma decisão sobre sua permanência ou não à frente da Câmara. Ele espera que apareçam provas que comprovem sua inocência no episódio em que é acusado pelo empresário Sebastião Buani, concessionário de um dos restaurantes da Câmara, de cobrar propina em troca de garantir seu contrato, o chamado "mensalinho".
"O presidente Severino está se sentindo injustiçado e quer provar sua inocência’, afirmou hoje (17) José Eduardo Alckimin, advogado do presidente da Câmara. Ele rebateu o relatório preliminar da Polícia Federal, que pediu ontem o indiciamento de Severino, que afirma haver "indícios veementes de crime praticado por parlamentar".
A Polícia Federal levantou dados que derrubam a tese de que o cheque de R$ 7,5 mil, apresentado por Buani como prova do pagamento do mensalinho a Severino, tinha como destino o pagamento de despesas de campanha de Severino Júnior, filho do presidente da Câmara, morto em 2004. "Se a Polícia está pedindo para investigar é porque os indícios não são tão veementes assim. Brevemente a PF vai encontrar a pessoa a quem o filho do presidente da Câmara pagou para prestar serviços para a campanha eleitoral", assegurou o advogado de Severino.