O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), deverá renunciar a seu mandato. Em reunião hoje (18) à noite com aliados, ele analisava a hipótese de renúncia dupla – à presidência da Câmara e ao mandato. Severino estava, no entanto, preocupado com as conseqüências desse caminho: a perda de foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF) para responder às acusações de recebimento de propina. A decisão deverá ser oficializada terça ou, no máximo, na quarta-feira em um discurso no plenário da Câmara.

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"A hipótese de ele pedir uma licença do cargo está afastada", garantiu o deputado Feu Rosa (PP-ES), depois de se reunir com Severino. "Não vejo razão para ele pedir licença. Ele mesmo disse que está muito bem de saúde", reforçou José Eduardo Alckmin, advogado do presidente da Câmara.

A maior preocupação de Severino com a renúncia dupla era a perda do foro privilegiado no Supremo para responder às acusações feitas pelo empresário Sebastião Buani, que alega ter pago propina ao presidente da Câmara para renovação da concessão de restaurante da Casa – o chamado mensalinho. Caso renuncie ao mandato, Severino passa a responder o inquérito na Justiça na primeira instância. Por isso, o presidente da Câmara não havia descartado totalmente a hipótese de apenas deixar o comando da Casa e se defender das denúncias como parlamentar.

Severino passou o dia aconselhando-se com seus aliados sobre o seu futuro político. Dedicou-se também a negociar com interlocutores do governo o candidato à sua sucessão. A expectativa é de que Severino se reúna amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro não será, no entanto, reservado. Lula também já avisou que não pretende dar nenhum conselho sobre a permanência ou não de Severino no Congresso.

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Desgastado com sua própria crise, o Palácio do Planalto tem evitado se expor publicamente em acordos com Severino. Na sexta-feira, Lula recusou-se a receber reservadamente o presidente da Câmara. O governo, porém, não quer ver um oposicionista na cadeira de Severino e, por isso, tem dado sinais fortes ao presidente da Câmara que não vai mexer em seus indicados, como o ministro das Cidades, Márcio Fortes. Com essa estratégia, o Planalto espera que Severino apoie um deputado da base aliada para sucedê-lo.

O governo teme que, magoado, o presidente da Câmara dê apoio à candidatura do atual vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), ao comando da Casa. Parte dos parlamentares do PP quer que Severino invista na canditura do oposicionista. Defende ainda que o partido passe para a oposição. Mas o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), e o líder do partido, José Janene (PR), estão em campanha aberta para que Severino apóie a candidatura à presidência de um deputado da base aliada que poderia ser o líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), ou até mesmo o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

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Romaria – Severino Cavalcanti recebeu uma romaria de aliados durante o dia na residência oficial da Câmara. Acompanhado da mulher, Amélia, e de seus três filhos, Severino ouviu as ponderações de seus companheiros de que o melhor é renunciar ao mandato e, em 2006, tentar se reeleger para a Câmara. "Temos de pensar na vida da instituição e, neste momento a permanência de Severino pode provocar tumulto na instituição" disse o advogado José Eduardo Alckmin, antes de se reunir com seu cliente no início da noite.

Almoçaram com Severino o presidente do PP, Pedro Correa (PE), o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI) e os deputados Wagner Lago (PP -MA), João Caldas (PL-AL), Feu Rosa (PP-ES) e Augusto Nardes (PP-RS). No início da noite, o presidente da Câmara convocou Janene e o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), integrante da Mesa Diretora, para um reunião.