O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), deverá arquivar nesta semana a representação para abertura de processo por crime de responsabilidade contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido foi apresentado na sexta-feira pelo PSDB, um dia depois de Lula ter revelado, em discurso no Espírito Santo, que mandou dirigente de uma empresa estatal silenciar sobre um suposto esquema de corrupção no governo de Fernando Henrique Cardoso. Em conversas com interlocutores do governo, Severino garantiu que não alimentará uma crise política artificial, como quer a oposição.
"Não dá para fazer um cavalo de batalha em cima disso", afirmou o presidente da Câmara, que atribui boa parte da novela à disputa eleitoral de 2006, onde o governo do PT e o PSDB vão se enfrentar. "Não vejo como desdobrar essas declarações em crise. É preciso fazer todo esforço para baixar a temperatura", completou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Mesmo assim, o Planalto não se dará por satisfeito na queda-de-braço com o PSDB e tentará blindar Lula de novo bombardeio, acusando os tucanos de quererem desestabilizar o governo, o País e a democracia.
Para o público externo, porém, Severino tem dito que ainda vai avaliar o pedido dos tucanos. O presidente da Câmara estava hoje (27) no Rio Grande do Sul, amanhã visitará Rondônia e Amazonas e só retornará a Brasília na terça-feira. Levado em banho-maria pelo Palácio do Planalto desde o início do governo, o PP de Severino e do ex-prefeito Paulo Maluf tornou-se um partido-chave nesta semana. Mais do que isso, virou a noiva cortejada pelo governo.
Ainda hoje, antes de viajar para Nova York – onde terá reunião na ONU sobre as Metas do Milênio e fará palestra na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos -, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, telefonou para dirigentes do PP. Assegurou que a reforma ministerial sairá neste mês e que o PP será contemplado. Dirceu fez questão de dizer que estará à disposição depois de sua volta, na quinta-feira.
"O interesse é mais do governo do que nosso", desconversou o líder do PP na Câmara, José Janene (PR). O presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), disse não ver motivo para abertura de processo por crime de responsabilidade contra Lula. "Foi um tropeço verbal e não devemos superdimensionar o lapso", afirmou. Irônico, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), não se conteve. "Que situação! O governo do PT virou refém do Severino", observou Jungmann, que entrará amanhã na Procuradoria-Geral da República com pedido de investigação de "crime de prevaricação", por parte do presidente.