De cada quatro brasileiros, apenas um é alfabetizado. Os outros três podem saber ler e escrever e até ter um diploma de nível superior, mas não entendem o que lêem, mesmo que defrontando textos corriqueiros, em que são usadas palavras e abordados assuntos que não exigem nenhum conhecimento especial. Tal fato foi revelado em pesquisa realizada por um respeitável instituto de consulta.
Para reforçar a nossa democracia, a escancaramos. Podem ser eleitores brasileiros a partir dos 16 anos de idade. Podem votar os analfabetos. E podem ser eleitos incompetentes, malandros, broncos e mal-intencionados. Muito freqüentemente é isso o que acontece, embora não seja verdade que doutores letrados não se dêem a práticas sujas da política. Aliás, entre estes são comuns os mestres das negociatas, que se aproveitam de seus conhecimentos para melhor tapear o eleitorado e roubar o dinheiro do povo.
A solução está na montagem de uma ou mais peneiras que selecionem melhor os nossos homens públicos, impedindo que os indesejáveis se apresentem ao eleitorado analfabeto ou analfabeto funcional. Algo como comprovação prévia de habilitação para a função pública, uma seleção que se desse nos próprios partidos políticos, que seriam co-responsáveis pelos atos dos que apresentassem ao povo e lograssem ver eleitos sob suas legendas.
Severino Cavalcanti é sua excelência, o presidente da Câmara dos Deputados. Antes mesmo de assumir, ainda quando candidato ao alto posto de chefe da principal Casa do Legislativo, buscou atrair votos de seus pares prometendo-lhes um polpudo aumento de vencimentos. Teve de recuar diante da revolta da sociedade, mas não recuou na prática do nepotismo, na defesa de punição leve dos corruptos do mensalão e do caixa 2 de campanha e agora ele próprio é acusado de cobrar, ao concessionário de um restaurante da Câmara dos Deputados, um mensalinho e propina, o que se constitui em crime de concussão. Ele é agente público.
Severino nega, o dono do restaurante, Sebastião Buani, confirma a extorsão às lágrimas e toda a Câmara acredita. Mas quem elegeu esse Severino Cavalcanti presidente da Câmara dos Deputados? Afinal de contas, os que nele votaram não foram atraídos pela promessa de um vencimento elevado, um mensalão legitimado, mas que ultrapassa a capacidade de o povo pagar e os méritos de quem o receberia?
Chega-se à conclusão de que Severino é um típico representante das elites políticas brasileiras que não precisam ser honestas nem alfabetizadas por inteiro. Aliás, quem não for, mostra-se habilitado a se eleger, pois tratará com um eleitorado que merece respeito, mas é despreparado, atuando num sistema que facilita a outorga de mandatos a quem não os merece.
A cassação do mandato de Severino parece certa, mas muitos dos que hoje lhe atiram pedras têm culpa em cartório, pois o elegeram pensando nas próprias contas bancárias. Dispuseram-se a ser comprados.
E vem o Palácio do Planalto, com o seu implodido PT, exigindo que Severino seja substituído por ?companheiro? petista, o que pode ser até de praxe. E muitos petistas são honestos e competentes. Mas não seria esta a hora de pôr o rabo entre as pernas e primeiro limpar o Partido dos Trabalhadores, ainda símbolo de uma esperança do povo brasileiro em ética na política e governo voltado para o social?
