Alguns setores industriais brasileiros terão de se reorganizar, com adoção de estratégias adequadas, para poder enfrentar a competitividade comercial chinesa. O alerta foi dado ontem (7), em entrevista exclusiva à Agência Brasil, pelo secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Renato Amorim.
O secretário destacou, entre eles, os setores de auto-peças e automotivo, aço e móveis, que "deverão, no futuro próximo, começar a sentir o impacto da China". No caso dos dois primeiros, Amorim explicou que a China não só está se tornando um grande produtor de auto-peças, como já manifestou intenção de começar a exportar automóveis. Na área siderúrgica, a tendência é de a China se tornar exportadora de aço, o que terá um impacto grande no mercado siderúrgico mundial, destacou. Em relação ao setor moveleiro, disse que o país asiático também se torna um pólo mundial de fabricação do produto, com investimentos escandinavos, americanos e japoneses. "Hoje, ela importa madeira do Brasil e daqui a pouco, quem sabe, vai começar a exportar móveis para o Brasil também", apostou o especialista.
Ele lembrou que alguns setores brasileiros, como o têxtil e de confecção, já se prepararam para a competição com a China. No caso do setor têxtil, a adequação atendeu ao término do Acordo de Têxteis e Vestuário (ATV), da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 31 de dezembro do ano passado, que estabelecia um sistema de cotas no comércio mundial de fibras e produtos têxteis. Com o fim do ATV, a expectativa era de que haveria total liberdade de disputa de mercado, ameaçado pela concorrência da China e da Índia.
Renato Amorim indicou que, em alguns casos, a estratégia poderá ser investimento na própria China. "Não é uma solução universal, aplicável a todos os setores mas, em muitos momentos, você vai ter a China como uma plataforma de expansão da competitividade brasileira", afirmou. Citou o caso de sucesso das companhias Tramontina, Embraer, Vale do Rio Doce, que já estão presentes naquele mercado.
O secretário executivo do CEBC reconheceu que problemas de contrabando e práticas ilícitas no comércio com a China são, muitas vezes, vinculados a ações efetuadas por brasileiros e não por chineses, e exigem maior rigor na fiscalização em solo brasileiro e um trabalho de cultura do comerciante nacional para combater a evasão.
Renato Amorim ? que é diplomata licenciado e foi chefe do setor econômico em Pequim entre 2001 e 2003 ? salientou, ainda, que a falta de informação é um entrave ao progresso do comércio Brasil-China. "O Brasil conhece a China muito mal. Não há um centro de pesquisa sobre China, há pouquíssima gente no Brasil que tenha vivido na China e entenda um pouco da economia do país", comentou.
Segundo Amorim, o conselho quer ser um catalizador de interesses. "Muitas vezes, devido à falta de conhecimento, o debate acaba se tornando muito emocional ou partindo muito para a caricatura e menos para os fatos", destacou. Na avaliação de Amorim, existe muita emoção quando o assunto é China, "e um pouco dessa emoção é magnificada pelo fato de que a gente conhece mal o país".