Apesar das promessas em contrário do presidente nacional do PT, José Genoino, o partido dará trabalho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações da reforma ministerial. Setores da cúpula petista no governo e no Congresso uniram-se em mais uma ofensiva para pressionar Lula a dar à legenda a Secretaria da Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, hoje entregue ao ministro Aldo Rebelo.
Eles argumentam que é um posto estratégico porque será peça-chave nas composições políticas para a reeleição do presidente em cada Estado. Eles dizem que as negociações começam este ano e que os acertos têm de ser feitos por um petista, e não por um aliado de qualquer outra sigla. A pressão maior sobre a administração federal parte de dirigentes petistas ligados ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que querem vê-lo sentado na cadeira de Rebelo. Pelo menos em um ponto, Lula e esses petistas estão de acordo. Tanto é fato que os entendimentos políticos em torno das disputas eleitorais de 2006 começaram e o presidente da República participa deles. Empenhado em assegurar o equilíbrio regional no ministério, Lula convidou o ex-deputado Vladimir Palmeira (PT-RJ) para uma conversa sobre o quinhão do Rio no ministério. O encontro ocorreu na última semana de 2004 e, como Palmeira não estava interessado em cargos federais, preferiu negociar a sucessão estadual.
Segundo um importante interlocutor presidencial, ele arrancou do presidente o apoio para disputar o governo do Estado em 2006. Isto porque, na avaliação geral, o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), que poderia ser o candidato natural da agremiação a governador, teve um desempenho pífio na briga pela prefeitura da capital fluminense.
O mesmo interlocutor afirma que Lula está decidido a preservar Rebelo na coordenação política porque, além de gostar pessoalmente dele, considera o ministro mais leal e confiável do que alguns companheiros do próprio PT. Na avaliação desta fonte palaciana, a reforma ministerial e a sucessão do comando do Legislativo são questões que se misturam e a eleição do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para presidente da Câmara fortaleceria, por tabela, a permanência do chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República no cargo.
Talvez por isto mesmo, João Paulo tenha dito, na semana passada, que, "até agora, a candidatura definida é a do Grenhalgh, mas que todo movimento político sofre mudanças bruscas".
Esta avaliação também pode explicar, ao menos em parte, o empenho do deputado Jovair Arantes, presidente do PTB de Goiás e homem de confiança do chefe da Casa Civil, José Dirceu, em desmontar a candidatura do deputado do PT de São Paulo. Arantes é um dos coordenadores do chamado Movimento Câmara Forte e quer procurar o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) esta semana para tratar da candidatura avulsa à presidência da Casa. Guimarães era o nome preferido do presidente da Câmara para o suceder.
Os amigos de João Paulo insistem que, mesmo sabendo que Lula "adora o ministro Aldo", o papel do comunista no Poder Executivo tem de ser repensado porque a questão não é administrativa, é política. O grupo mais ligado a João Paulo sustenta que apenas três petistas têm representatividade e autoridade nacional para comandar as composições políticas nos Estados, definindo que candidatos deverão ser lançados, apoiados e até mesmo vetados pela direção partidária, de modo a facilitar a reeleição de Lula.
O trio é formado por Dirceu, pelo presidente nacional do PT, José Genoino, e pelo presidente da Câmara, único que teria disponibilidade para assumir a tarefa. Embora Lula tenha declarado de público que João Paulo "não precisa de cargos para ter importância", os amigos do deputado sustentam que descartá-lo da reforma ministerial agora é uma precipitação e um equívoco.