Setor têxtil é “vocacionado ao sofrimento”, diz Alencar

O vice-presidente da República, José Alencar (PRB), ouviu nesta terça-feira (05) queixas e reivindicações de empresários e dirigentes de entidades do setor têxtil durante reunião na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). Lembrando de sua origem empresarial no setor têxtil, Alencar afirmou que esse setor industrial é "vocacionado para o sofrimento", numa referência às dificuldades por que passam as empresas do ramo. Ele recebeu um manifesto em que os empresários pediram medidas contra práticas desleais de comércio e desoneração tributária. O vice-presidente prometeu conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da área econômica sobre a posição do setor.

Alencar também arriscou algumas sugestões em várias áreas. Além de defender a redução da taxa de juros, propôs a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN), para que tivesse representantes setoriais e regionais. Também concordou com a avaliação do presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, de que os juros do crédito agrícola são altos (8,75% ao ano), pois foram definidos em um momento em que a inflação era maior.

Em entrevista, Alencar lembrou que o crescimento da economia brasileira foi de 7% ao ano até a década de 1970. Para ele, isso dá "um sinal de que o Brasil pode crescer a esse tipo de taxa", mas é preciso cuidado nos investimentos de infra-estrutura para sustentar uma expansão nesse ritmo. Sobre o Mercosul, a avaliação do vice-presidente é de que os parceiros do bloco não estão sendo tão compreensivos quanto o Brasil nas negociações. A Argentina apresenta taxas de juros negativas, se descontada a inflação, o que dá condições desiguais de competição, avaliou.

O vice-presidente elogiou a atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado e disse que há, em São Paulo, suborno de autoridades policiais. Questionado se a baixa remuneração seria a causa, Alencar disse que "isso não pode corromper o moral do policial". Ele também defendeu que o governo federal não pode intervir em São Paulo sem que haja solicitação para isso.

"São Paulo se considera, e é até bonito que se considere, bem dotada do ponto de vista de polícia militar e civil", afirmou. "E de fato é", acrescentou. "Mas numa hora dessas, tudo o que a gente puder fazer e todas as forças devem ser postas a serviço da paz e da ordem." Sobre a tese de reeleição, Alencar demonstrou que compartilha da opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrário à proposta.

Entre as reivindicações que recebeu, os vários setores representados por 110 participantes na Fiergs pediram a retirada do PIS e Cofins sobre o pão francês, isonomia na cobrança destes tributos entre frigoríficos de carne bovina exportadores e os que vendem para o mercado interno, e reiteradas críticas sobre a taxa de câmbio. O presidente da Fiergs, Paulo Tigre, recordou que o indicador de desempenho industrial medido pela entidade é negativo há 16 meses.

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