A indústria calçadista deverá repetir em 2007 as quedas na produção que vêm sendo registradas sistematicamente desde 1999, segundo adiantou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Elcio Jacometti. Conforme ele, o recuo se repetirá caso o câmbio continue estável na cotação atual, o que admite ser provável até o final deste ano. "Não existe política industrial e temos que enfrentar todos os problemas de mercado, especialmente a concorrência dos chineses" disse.
A indústria de calçados e couro registrou, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baixa na produção em 2005 (-3,21%) e no acumulado de janeiro a novembro de 2006 (-2,56%, segundo os dados disponíveis até o momento), na comparação com o ano anterior. Desde 1999, o setor só registrou aumento na produção nos anos de 2000 e 2004.
Jacometti evita críticas ao governo que, segundo ele, não iria mesmo interferir no câmbio para beneficiar especificamente alguns setores, mas alerta que os calçadistas continuam "muito prejudicados" pelo câmbio. "Somos muito competitivos, o que nos tirou a competitividade foi o problema cambial", afirmou. Ele disse não saber explicar porque houve quedas nas produções anteriores à valorização do real.
O presidente da Abicalçados ressalta que o dólar baixo está refletindo a "grande credibilidade" do Brasil e o superávit na balança comercial. "Não vou jogar pedra em uma situação como essa, só posso dizer que o meu setor está com problemas", disse ele, que sugere a formatação de políticas setoriais para enfrentar a questão do câmbio.
Competitividade
Segundo Jacometti, mesmo com os problemas de concorrência, especialmente dos chineses, e do recuo nas exportações e na produção nos últimos anos, a indústria calçadista conseguiu elevar a competitividade ao ponto que "o dólar de R$ 2,60 hoje seria perfeito" para o setor. "A um dólar nesse patamar todo mundo (de calçados) se adaptaria para ter boa rentabilidade", disse ele, acrescentando que, há alguns anos, o setor "só sobreviveria" com dólar cotado a pelo menos R$ 3 ou acima.
No entanto, garante que o processo de adaptação chegou ao fim e a indústria não tem mais como aumentar a produtividade e competitividade com o câmbio atual. O presidente da Abicalçados disse esperar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mesmo não contemplando pontos específicos para o setor, possa beneficiar indiretamente a produção da indústria calçadista ao viabilizar a expansão da economia e, em conseqüência, o consumo interno.
Apesar disso, ele disse que o mercado doméstico não será suficiente para garantir o bom desempenho da produção da indústria calçadista, mesmo que cresça 5% ao ano. Segundo ele o setor, que exporta em média 30% do que produz, precisa do mercado externo para fabricar mais com maior rentabilidade.
O Brasil, que é o terceiro maior produtor mundial de calçados, exportou 212 milhões de pares em 2004 – ano em que a produção nacional de calçados e couro cresceu 2,33%, segundo o IBGE – e, no ano seguinte, já com o problema do câmbio, as exportações caíram 190 milhões de pares. No ano passado, somaram 180 milhões de pares. A produção anual do setor gira em torno de 700 milhões em pares.