O atual mandato de Lula não passará em brancas nuvens, o que não significa que terá um ambiente ideal para as realizações que anuncia e, ao que parece, já planeja. O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, como intenção, responde às expectativas da nação, mas é um documento tão complexo e cheio de nuances que seria impossível não surgissem, desde logo, seus críticos e até adversários. O primeiro protesto surgiu das entidades sindicais, contrárias ao uso dos recursos do FGTS para formação de um fundo financiador de obras de infra-estrutura. A seguir surgiram os governadores, descontentes com o fato de não terem sido antecipadamente consultados para a inclusão de medidas de seu interesse, como a escolha de obras nos estados com a participação de recursos federais e também locais. E ainda porque muitos entendem que no que toca a assuntos fiscais, haverá perda de receitas para os tesouros estaduais.

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O presidente Lula acenou com uma abertura do Executivo para modificações na proposta do PAC, ouvindo os governadores e procurando absorver seus reparos. Em seguida, seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, comandante da feitura do documento, e o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, jogaram um balde de água fria ao declararem que o governo não vai mexer no programa. Ou, pelo menos, em sua essência. Aí, acabaram repetidos por Lula, que também falou na intocabilidade do cerne do plano.

Esse vaivém dá a impressão de que o Executivo decidiu endurecer e procurar apoios capazes de não colocá-lo, nessa refrega, em posição frágil. Parece evidente que o governo mexerá no plano se for indispensável para obter sua aprovação, mas partir de uma posição mais dura pode garantir que o PAC não seja desfigurado para atender aos que reclamam de seu texto inicial.

Talvez por isso Lula começou um périplo pelo País, assinando contratos para obras futuras, discursando e inaugurando pequenas obras, tática que usou durante sua campanha. O objetivo é reforçar o apoio popular que lhe deu uma folgada reeleição e provocar a confiança da sociedade no seu PAC, transformando, minimizando ou anulando as discordâncias.

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Mas elas continuam surgindo, algumas capazes de colocar pedras no caminho do Programa de Aceleração do Crescimento. Uma delas é a reação do funcionalismo público federal. O PAC limita o crescimento real, descontada a inflação, da folha de salários da União, até 2016, em 1,5%. Há marajás, sem dúvida. Mas há também párias, funcionários que ganham pouco e, paradoxalmente, são os que trabalham mais. Embora a limitação seja para o todo do funcionalismo, logo se deduziu que aumentos já concedidos e ainda não pagos não se efetivarão. Que contratações para as quais já há compromissos e até concursos públicos realizados, não se darão. E a diminuição global das despesas com pessoal da União não será feita através de uma redução da máquina administrativa, encolhimento do Estado, como aconselham muitos críticos do governo federal.

O objetivo do governo é compreensível. Quer limitar, pela redução das majorações de vencimentos, a relação do gasto com pessoal ao PIB e, dessa forma, ter mais recursos para investir. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) é contrária à medida de economia anunciada e está convocando uma plenária para analisar as medidas contidas no PAC. ?Nós vamos discutir com a nossa base. Em um segundo momento, se não houver avanço nas negociações, vamos ver se é a hora de uma grande greve ou se vamos buscar uma solução no campo jurídico?, disse José Milton Costa, secretário-geral da entidade.

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