O candidato do PSDB à Presidência da República, senador José Serra, cancelou a viagem que faria hoje a Uberaba e Araxá, sob o impacto da pesquisa do Datafolha que reforçou a ameaça de vitória do PT no primeiro turno da disputa presidencial. Avisados na última hora da mudança de planos, os tucanos e aliados que se mobilizaram para receber o candidato até compreenderam que era preciso “retocar” o programa de televisão, que não estava rendendo os votos desejados, mas a frustração foi inevitável.
“Nós entendemos a situação, mas o adiamento é muito ruim”, diz o prefeito de Uberaba, Marcos Montes (PFL), que reuniu líderes políticos de uma dezena de pequenas cidades vizinhas e empresários do setor agrícola, da indústria e do comércio para recepcionar Serra no município. “Vai ser difícil mobilizar todo mundo outra vez daqui a três dias”, completa o prefeito, ao salientar que o presidenciável tucano prometeu cumprir a programação que estava prevista para hoje na quinta-feira passada.
O mau tempo e a má performance eleitoral já levaram Serra a cancelar outras visitas, como ocorreu na sexta-feira, em Palmas (TO), e no domingo, em Varginha (MG). Mas o prefeito Montes se queixa com a autoridade de quem abriu a dissidência pró-Serra no PFL mineiro, ainda nos tempos em que até tucanos de Minas haviam migrado para a candidatura de Ciro Gomes (PPS), certos de que o candidato da Frente Trabalhista tinha lugar garantido no segundo turno contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva.
O PFL mineiro já abandonou Ciro, mas nem por isto fechou com Serra. Ao contrário, Montes reconhece que o momento é de crise na candidatura tucana. “Há um apelo de mudança muito grande”, constata, ao mesmo tempo em que garante não temer a eleição presidencial. “O Brasil está preparado para qualquer resultado”, diz. E, embora seu PFL se declare anti-PT, ele reage sereno à hipótese de vitória do petista. “Se por acaso o Lula ganhar, vamos alinhar e torcer para que seu governo dê certo.” Em relação a pesquisa do Datafolha, que alarmou os aliados de Serra em Uberaba, ele mantém o otimismo: “Vou com Serra até o final e ainda aposto em uma reflexão do eleitorado, que leve a disputa ao segundo turno”.
Montes foi responsável pelo apoio do PFL mineiro à candidatura do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB), ao governo de Minas Gerais, fazendo a ponte entre o tucano e o presidente de seu partido no Estado, deputado Clésio Andrade. O trânsito fácil no tucanato vem da parceria local, em que seu vice é do PSDB. Na condição de ex-vice-presidente da Associação Mineira de Municípios, ele também circula com desenvoltura entre os prefeitos de todo o Estado.