Vai ser muito difícil encontrar as verdadeiras causas do aparecimento do foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, a partir das declarações oficiais e oficiosas do governo. Um lado diz que não houve liberação de verbas para os programas de vacinação, mas o outro se põe a bradar que os recursos jamais faltaram.
Aliás, o presidente Lula, num de seus poucos contatos com os jornalistas nessa última viagem à Europa, afirmou alto e bom som não ver nenhum sentido no fato de por uma bagatela de R$ 800 (a vacinação na referida fazenda) não ter sido realizada por falta de dinheiro. O argumento de Lula deve ser levado em consideração.
Os secretários da Agricultura do Mato Grosso do Sul e do Paraná, por sua vez, garantiram que o governo federal não tem repassado os recursos orçamentários para a execução dos programas de defesa agropecuária. As secretarias estaduais se responsabilizam pela execução dos referidos programas, cujas funções lhes são delegadas mediante a assinatura de convênios.
A delegação pressupõe o recebimento dos recursos distribuídos pelos estados, embora todos saibam que o atraso e mesmo a suspensão dos repasses fazem parte da previsível crônica da burocracia brasileira.
O fato a lamentar profundamente é que pecuaristas tenham negligenciado a prática comezinha da vacinação do plantel – custa crer que isso ocorreu – pelo alto nível de desenvolvimento tecnológico existente na pecuária nacional. O Mato Grosso do Sul tem hoje o maior rebanho bovino do País e, não por acaso, está entre nossos maiores exportadores de carne. A proprietária da fazenda onde o foco foi detectado declarou ter vacinado o gado.
Diante do volumoso prejuízo que a balança comercial vai sofrer com o corte de importações de carne brasileira, é infrutífero o debate sobre se houve ou não dinheiro para a vacinação. Aliás, pobre do criador vocacionado a produzir para o mercado externo, se ficar na dependência das providências do governo…
Muito mais proficiente agora é a análise científica da questão, para a apuração imediata das causas reais da manifestação de doença que já deveria ter sido eliminada do território brasileiro. E, se houve vacinação, por que as vacinas não deram a cobertura esperada? Tudo o mais será trocar farpas sobre lana caprina, quando o fundamental é descobrir e propor alternativas embasadas na seriedade e na competência.