O Paraná deverá produzir sete mil toneladas de bicho-da-seda nesta safra, uma taxa de 9,4% maior que a anterior, segundo estimativa da Câmara Técnica do Complexo da Seda do Estado do Paraná divulgada nesta quinta-feira (11) em Curitiba. Até março deste ano, o Estado já tinha produzido cinco mil toneladas do produto. Na safra passada, a produção do Paraná foi de 6,4 mil toneladas.
O secretário da Agricultura, Newton Pohl Ribas, disse que o crescimento da produção no Paraná decorre de um maior ingresso de agricultores na atividade. ?Atualmente, existem 6,13 mil produtores rurais no Estado que se dedicam à atividade. Na safra anterior, eram 5,89 mil agricultores?, explicou.
Entre os fatores que influenciam positivamente o segmento está o aumento da produtividade. A previsão é de que na safra atual sejam produzidos 400 quilos por hectare/ano. Na safra 2004/05, a produtividade foi de 379 quilos por hectare/ano.
O zootecnista da Secretaria da Agricultura, José Carlos Zaia, lembrou que o aumento da produtividade está relacionado a um maior controle da qualidade na produção. ?Cada vez mais o produtor paranaense está consciente da importância de produzir casulos com qualidade?, disse. Por isso, segundo ele, o produtor procura adubar as amoreiras devidamente, faz as podas certas e desenvolve todo o manejo necessário. ?No barracão, onde são mantidas as lagartas, a higiene é levada a sério. O produtor também distribui as folhas de amoreira, entre os insetos, de maneira correta. Todos esses procedimentos, que são importantes para o sucesso da atividade, são mais facilmente praticados nas propriedades menores?, afirmou.
Mudança de perfil
Cada vez mais a produção de bicho-da-seda no Paraná envolve agricultores familiares. Antes, predominavam arrendatários e meeiros no segmento. ?Hoje, o perfil de quem produz no Estado é de agricultor familiar. A atividade é desenvolvida principalmente por aquele produtor rural que possui uma pequena área e se dedica, ao máximo, para obter uma produção de qualidade?, comentou Zaia.
Segundo o zootécnico, que também é gerente da Câmara Técnica, as propriedades com bicho-da-seda chegaram a ter, em média, cinco hectares alguns anos atrás. ?Atualmente, a área média delas é de 2,20 hectares por produtor?, informou.
Produtores
A agricultora familiar Dicélia Rodriges Cordeiro, da Vila Rural ?Esperança?, localizada no município de Nova Esperança, informou que está satisfeita com a produção de casulos-verdes (bicho-da-seda). ?Já consegui produzir, num mês, 120 quilos do produto. É o que comporta meu barracão. Com essa produção, garanto cerca de R$ 900,00 no mês. Para mim, que também sou dona-de-casa, esse lucro me faz ser independe do meu marido, que trabalha fora, no corte da cana?, disse. Segundo Cordeiro, 60 agricultores da Vila Rural dedicam-se à atividade. ?A gente está se saindo muito bem.?
O produtor Antônio Dosso, também de Nova Esperança, também disse estar satisfeito com a produção de casulos-verdes. ?No mês, chego a produzir de 450 a 500 quilos do produto. Para mim, não existe uma melhor alternativa de renda?, confirmou. Segundo Dosso, ele iniciou na atividade em 1985. ?Foi a opção que tive com o fim do café. Arrisquei e deu certo?, lembrou.
O agricultor ressaltou que o sucesso na atividade depende da dedicação e dos cuidados técnicos. ?É preciso dar uma atenção especial aos casulos. A qualidade da amoreira, que vai alimentar as lagartas, também deve ser levada a sério. Além de tudo isso, o produtor deve acreditar no que está fazendo.?
Preços
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura, o preço médio pago ao produtor pelo quilo de casulo-verde, até março deste ano, foi de US$ 2,76. ?É o terceiro melhor preço dos últimos 30 anos. Nas últimas três décadas, o valor máximo pago pelo quilo do produto foi de US$ 3,51?, comentou Zaia.
O gerente da Câmara Técnica ainda informou que, segundo as indústrias, o mercado internacional da seda está estável. ?Mesmo com a queda do dólar, o fio de seda brasileiro mantém um importante espaço no exterior devido a sua qualidade?, disse.
Organização
A Câmara Técnica do Complexo da Seda do Estado do Paraná é formada por 17 entidades que representam os diferentes elos da cadeia produtiva da seda.
Entre os participantes da Câmara, estão a Secretaria da Agricultura, o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), a Federação das Associações de Sericicultores do Estado do Paraná (Feaspar), a Associação dos Municípios do Paraná (AMP), o Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira das Indústrias de Fiação (Abraseda).
?O Paraná é o único estado que possui toda essa organização no que se refere ao segmento?, afirmou o secretário da Agricultura. Segundo Ribas, o envolvimento e o interesse das diferentes entidades contribuem para o crescimento do setor.
Na safra 2004/05, o Paraná respondeu por 89,63% da produção nacional de casulo-verde. ?Só o município de Nova Esperança foi responsável por 15% do casulo produzido no País?, disse.
Projetos estimulam crescimento
Parte do crescimento do segmento é atribuída à existência de projetos desenvolvidos pelas universidades estaduais que participam da Câmara Técnica. A Universidade Estadual de Londrina (UEM), por exemplo, possui um banco genético de matrizes de lagartas, que possibilita o desenvolvimento de pesquisas na área da multiplicação genética do bicho-da-seda, bem como, em relação à codificação genética do inseto.
Já a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) realiza um trabalho didático, voltado a alunos do segundo grau, com ênfase na biologia do bicho-da-seda. A iniciativa foi premiada na Reunião de Integração da Morfologia Pan-Americana, realizada em Foz do Iguaçu em 2004.
No XXIV Encontro Estadual de Sericicultura, que acontecerá em Nova Esperança no dia 21 de julho, o Iapar apresentará o equipamento desenvolvido por pesquisadores do instituto, usado na poda da amoreira e na colheita da amora. ?A nova tecnologia vai permitir a redução da mão-de-obra na pequena propriedade e o aumento da produção?, concluiu Zaia.