Recentemente fui agraciado pelo distinguido médico Luís Felipe Paula Soares, com o livro Ser e fazer, de autoria de Maria Luiza Gonçalves Baracho, antipesquisadora da Fundação Cultural de Curitiba, autêntica biografia de um gaúcho que aportara em Curitiba, nos idos de 1922, para se tornar um dos mais influentes líderes políticos do Paraná, o coronel Francisco de Paula Soares Neto.
De inopino, lendo-o, voltei ao passado, aos tempos em que, estudante de Direito, militava na União Democrática Nacional, partido político que se organizara em torno da candidatura do insígne brigadeiro Eduardo Gomes à Presidência da República.
Lembrei-me, então, do convívio, quase diário, com personalidades marcantes da política estadual a exemplo de Othon Mader e Paula Soares.
Acompanhei, assim, em parte, a vida de eminentes homens públicos, especialmente do biografado Paula Soares, a quem me vinculei por profunda admiração. Ser e fazer retrata, com fidelidade, aspectos e passagens da vida e obra do rio-grandense que, formado em medicina aos 19 anos, recém-casado, passou a residir em Curitiba, jovem cidade com aproximadamente 64 mil habitantes e onde nasceram seus onze filhos, os varões, meus conhecidos e amigos e cuja mãe, d. Aura, vivia, recatadamente, para o lar. Paula Soares era pessoa especial, sempre atenciosa e tranqüila, charuto ao lábio, a todos atendendo e ouvindo.
Recordo-me que, à tarde, na sede da UDN, ali na Rua 15, próximo à Barão do Rio Branco, reunia-se com vários companheiros, discutindo e debatendo os problemas políticos, muitas vezes trazendo às mãos uma bola de futebol que destinava ao seu amado Britânia, de muitas glórias.
Médico do Exército e professor catedrático de Doenças Tropicais e Infecciosas na mais antiga Universidade do Brasil, federalizada em 1950, ano de minha formatura, era estimado, admirado e respeitado por seus alunos.
O opúsculo de Maria Luiza Gonçalves Baracho lembra a atividade política do biografado, a sua participação na campanha presidencial de Rui Barbosa, como signatário do manifesto estudantil, nas revoluções de 1930 e 1932, sua eleição em 1934 para deputado federal, as missões cumpridas na área estadual como secretário da Fazenda e presidente do Banco do Estado do Paraná e na área federal como presidente do Instituto Brasileiro do Café, até seu afastamento, em 1962, depois do insucesso na disputa da senatoria.
Rico em fotos, inclusive com rememoração a Curitiba de antigamente, o livro ainda me surpreende, agradavelmente, retratando o momento em que o coronel Paula Soares inaugurava a coletoria de Astorga, comarca onde judiquei por oito breves anos.
?Ao longo de sua vida pública, Paula Soares lutou pela democracia e pelos interesses paranaenses em âmbito nacional?, afirma a autora, em reconhecimento da homenagem, assinalando, ainda, em razão do óbito, ?em 15 de março de 1983, às 15h15, na Casa de Saúde São Vicente, em Curitiba, silenciou a voz que tanto lutara pela democracia, pela liberdade, e como ninguém soubera exaltar as potencialidades do Paraná e sua gente, defendendo seus interesses e direitos?.
Aos que amam a nossa terra, tiveram a ventura de conhecer Paula Soares e mesmo aos que não viram em vida, a sua biografia, tão bem elaborada, enseja conhecida para enriquecimento de bibliotecas, tal como ocorrerá com a do vetusto Centro de Letras do Paraná, que presido, postando-se ao lado de mais de vinte mil títulos, a maioria de autores conterrâneos.
Presto, assim, o preito de minha saudosa homenagem à memória do gaúcho que se fez paranaense, engrandecendo a nossa história!
Luís Renato Pedroso é desembargador jubilado, presidente do Centro de Letras do Paraná e vice-presidente do Movimento Pró-Paraná.