São Paulo – O medo e a insegurança são os sentimentos predominantes das pessoas que tiveram que deixar às pressas as casas onde moram, localizadas nas proximidades do desabamento do canteiro de obras da linha amarela do Metrô, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.
Há quatro meses de repouso para se recuperar de um acidente de motocicleta, a estudante Cláudia Regina Alvarenga Mikail estava em seu apartamento quando ouviu uma explosão. Acostumada às explosões nas obras de construção da linha amarela do Metrô, a estudante, no entanto, estranhou a intensidade do barulho e a interrupção da energia elétrica.
Assustada, Cláudia, com algum esforço, foi até a janela e avistou pessoas correndo e gritando, ônibus retornando na rua, bombeiros e policiais chegando. Ao mesmo tempo, seu pai a chamava para descer do prédio, alertando que era perigoso ficar no apartamento. ?Eu desci com a roupa que eu estava, só peguei minhas muletas e a cadeira de rodas?.
A residência da estudante, assim como outras 54, estão interditadas. A presença nas moradias só foi permitida para se pegar alguns objetos ou documentos. ?Só vim para cá porque tenho que ir ao médico e por isso tenho que pegar receitas médicas e roupas?, disse a estudante.
Cláudia afirmou que sempre se sentiu insegura com as obras, principalmente quando ouvia alguma explosão. Agora, a moradora teme a volta para o apartamento. ?Eu moro aqui há 30 anos e desde que começaram essas perfurações, eu nunca me senti segura. Agora tive a certeza de que o que eu estava pensando tinha sentido?.
Ela disse que não tem vontade de continuar morando no local, mas não tem para onde ir e, caso haja possibilidade de pagamento de indenização, mudaria para uma rua mais segura. ?Aqui, há muito tempo que não vejo segurança nenhuma?.
A aposentada Terezinha Chaves, que reside no mesmo prédio há 28 anos, e hoje mora com um filho e uma neta adulta, estava sozinha em casa no momento do acidente. Ela afirmou que nunca tinha ouvido um estrondo tão alto. ?Estão acontecendo detonações constantemente, mas quando deu essa eu pensei que eles haviam exagerado. Mas não era uma detonação provocada, já era o desabamento?, disse.
Desde o desabamento, contou a aposentada, todos saíram do prédio de três andares e não puderam mais entrar. ?Aí já começaram a dar assistência para nós. Subimos só para pegar as coisas e já fomos para o hotel?.
Apesar de todo o atendimento prestado pelos responsáveis pela obra, a aposentada disse que sua vida está completamente alterada. ?Nós saímos de nossa casa. Minha neta e eu não estamos dormindo, comendo direito. A sensação é horrível. É a sensação de perder uma coisa pela qual você lutou a vida inteira para ter?.
Participante de grupos da Terceira Idade, Terezinha não está fazendo nenhuma de suas atividades. ?Espero que eles resolvam esse problema e eu possa voltar para casa. Não sei como vou me sentir dentro do meu apartamento, estou com medo, mas quero voltar. Se o estado oferecesse uma indenização eu sairia daqui?.
Segundo os moradores, os responsáveis pela construção da linha amarela do metrô estão prestando todo o atendimento e fazendo reuniões diárias para explicar toda a situação. Nenhum deles se queixou do atendimento, que inclui além de um local para dormir, táxis à disposição, fornecimento de remédios àqueles que precisarem, psicólogos e assistentes sociais. Nenhum deles criticou o atendimento prestado até agora.