Senadores do PMDB negam abalo na relação com Lula

A disputa interna pela presidência nacional do PMDB não vai contaminar as relações do partido com o Planalto a ponto de pôr em risco a aprovação do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Pelo contrário, os peemedebistas do Senado, que ensaiaram um foco de rebeldia, continuarão na órbita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nossa disposição é acelerar tudo que tiver relação com o PAC e o Brasil", afirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

"Minha preocupação é de fazer andar também as reformas estruturais, para que o crescimento econômico não seja apenas um vôo de galinha", emendou Renan. Em conversas reservadas, porém, o senador se queixou do governo, revelando-se magoado com o presidente Lula pela "virada" em favor da reeleição do atual presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), depois de ter "inventado" a candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim.

"O PAC não vai pagar o pato", brincou nesta quarta-feira (7) o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO), depois da reunião da bancada de senadores com os dois ministros peemedebistas – Silas Rondeau, das Minas e Energia, e Hélio Costa, das Comunicações, para discutir o programa. Na mesma linha, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), que fez sua estréia com o líder governista do Congresso em plena crise, avaliou que a "questão partidária" não deve acrescentar problemas à liderança. Ela admitiu que o incidente gerou desgaste, mas ponderou: "Não acredito que isto seja uma coisa incontornável".

Mais cauteloso, o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), avaliou que os ânimos estão muito acirrados e que "só o tempo dirá" o tamanho da repercussão do episódio. "Temos que esperar baixar a temperatura da crise", opinou. Por sorte do governo, lembrou Jucá, o PAC está sendo apreciado pela Câmara e só deverá chegar ao Senado em aproximadamente três meses.

"Isto é um episódio partidário e minha relação com o presidente Lula é extremamente pessoal", desconversou o senador José Sarney (PMDB-AP), que também estava na linha de frente da campanha de Jobim. Nem ele nem Renan admitiram de público o abalo na relação do grupo com o Palácio do Planalto. "Minha relação com o governo é institucional e vai continuar sendo. Nunca faltei nem faltarei ao Brasil no cumprimento de meus deveres constitucionais", disse Renan, para completar: "Minha relação com o presidente Lula é institucional, de poder para poder".

Difícil mesmo de contornar é a crise na relação de Renan e Sarney com o deputado Michel Temer. Ainda em campanha pela reeleição no próximo domingo, o deputado já encarregou vários emissários de propor um acordo à dupla, para compor uma chapa de consenso ao diretório nacional do partido. Não teve sucesso.

"Se Michel for eleito, será presidente de uma parcela do PMDB", sentenciou Renan, deixando claro que seu grupo se recusa a ser presidido por Temer. Ao menos por enquanto, a estratégia dos insatisfeitos é boicotar a convenção do domingo, na tentativa de reduzir a representatividade do presidente reeleito. Mas a coesão do grupo já começa a fazer água. Indagado sobre a convenção, o ministro Hélio Costa não hesitou: "É claro que eu vou participar. Não tenho essa informação de que vá haver boicote".

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