Pressionados com a divulgação de envolvimento de correligionários na máfia das obras, líderes dos partidos de oposição no Senado uniram-se ontem em favor da criação de uma CPI mista para investigar o esquema apurado pela Polícia Federal na Operação Navalha. À noite, o senador José Nery (PSOL-PA) anunciou da tribuna que já havia colhido as 27 assinaturas necessárias para a instalação da comissão.
A resistência inicial à abertura de investigação sobre a máfia das obras caiu rapidamente na Casa. Depois de rejeitar a idéia na véspera, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), mudou de posição e defendeu em discurso a investigação pelo Legislativo, como fizera na véspera o PSDB. Ao fim do discurso de Agripino, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também deu apoio público à CPI.
?Do alto da responsabilidade do cargo de presidente do Senado Federal, farei o que a Casa entender que precisa ser feito?, disse Renan, desconfortável com vinculação de seu nome às denúncias do esquema de fraudes em licitações de obras públicas. ?Se for necessário constituir uma comissão parlamentar de inquérito para que tudo fique absolutamente esclarecido, descerei da isenção que devo ter, para assinar, em primeiro lugar, a instalação dessa comissão parlamentar de inquérito.
Na véspera Renan e Agripino tinham ficado irritados com o fato de o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ter declarado a emissoras de televisão que considerava a nova CPI ?inevitável?. O líder do DEM, contudo, quis deixar claro em seu discurso que a mudança de posição foi impulsionada por outro fato. ?No momento em que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi buscar informações e trazer a crise para dentro do Congresso, requisitando à Justiça a lista de deputados envolvidos no caso, mudei de idéia?, justificou-se Agripino.