Relatório da comissão de senadores criada para acompanhar as investigações sobre
o assassinato da missionária Dorothy Stang, no dia 12 de fevereiro passado em
Anapu, no sudoeste do Pará, levanta graves suspeitas sobre a atuação da Polícia
Civil paraense no caso. Cheques e contratos para exploração de madeira,
apreendidos pela polícia na residência do capataz Amair Feijoli da Cunha, o
Tato, suposto intermediário do crime, o vinculam ao acusado de ser o mandante, o
fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, ainda foragido, e a outras dezenas de
empresários e madeireiros da região.
Além de cometer falhas na
investigação, sobretudo ao desconsiderar a suposta existência de um consórcio de
fazendeiros que teria encomendado o crime, a polícia também é acusada no
relatório de 60 páginas de limitar seu inquérito apenas aos quatro envolvidos-
Bida, Tato e os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo
Carlos Batista, o Eduardo, que num primeiro momento decidiram assumir o crime
sozinhos, mas depois recuaram, incriminando o fazendeiro e seu
capataz.
Outra falha apontada pelos senadores: apesar de ter tantos nomes
para investigar, os delegados não pediram a quebra do sigilo telefônico de
ninguém, principalmente dos suspeitos. A senadora Ana Júlia (PT-PA), presidente
da comissão, não economiza críticas às autoridades de seu estado, dizendo que na
área da segurança pública os discursos foram contraditórios.
"Em muitos
casos de conflitos agrários, elas foram coniventes com os fazendeiros, que agiam
irregularmente", disse Ana Júlia. No relatório, previsto para ser votado na
próxima terça-feira, os integrantes da comissão sugerem que o processo seja
transferido para a Justiça Federal.
O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida,
segundo informou hoje seu advogado Augusto Septímio, poderá se entregar a
qualquer momento. Ele está foragido há 41 dias e foi intimado por edital a
prestar depoimento no próximo dia 29 ao juiz Lucas do Carmo de Jesus, na comarca
de Pacajá.
O advogado faz mistério se Bida irá se apresentar em Belém ou
em Brasília. O fazendeiro mandou um emissário dizer a seu advogado que pretende
evitar o "assédio da imprensa". Segundo Septímio, seu cliente não está escondido
e exerce normalmente suas atividades empresariais."Ele está numa cidade e anda
normalmente pelas ruas, embora esteja psicologicamente abalado com o
envolvimento de seu nome nesse crime", disse o advogado.