O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse nesta sexta-feira que há indícios de que a Caixa Econômica Federal (CEF) teria feito "operações suspeitas" quando comprou do banco mineiro BMG créditos consignados de pensionistas e aposentados do INSS.
Segundo o senador, o BMG teve lucro de R$ 209,8 milhões ao vender para a Caixa R$ 1,094 bilhão de sua carteira de créditos consignados entre dezembro de 2004 e setembro último. Álvaro Dias suspeita que parte desses recursos tenha abastecido o esquema montado por Marcos Valério, apontado como o operador do ‘mensalão’.
"Temos razão de sobra para supor que este tenha sido o instrumento usado para calçar os empréstimos feitos pelas empresas de Marcos Valério no BMG. A suposição é que parte desses recursos pode ter alimentado o caixa da corrupção", disse o tucano. As empresas de Valério obtiveram empréstimos de cerca de R$ 40 milhões no BMG, repassados ao PT e partidos aliados. Dias vai encaminhar a documentação com os contratos entre a CEF e o BMG à CPI dos Correios e para análise do Tribunal de Contas da União (TCU).
Ele também tentará aprovar, terça-feira, requerimento para convocar o presidente da CEF, Jorge Mattoso, responsável pelos contratos com o BMG. Segundo o senador, a Caixa poderia ter lucrado R$ 696,3 milhões caso tivesse realizado diretamente as operações de concessão de empréstimos consignado a pensionistas e aposentados do INSS. Na operação com o BMG, a CEF espera lucrar R$ 346,1 milhões ao longo de três anos. "Ou seja, a Caixa deixou de lucrar R$ 350,1 milhões. O lucro foi metade do que poderia ser caso tivesse operado diretamente. Se a CEF deixou de ganhar isso significa que alguém ganhou no lugar dela."
O senador tucano começou a investigar os seis contratos fechados entre a Caixa e o BMG para compra de crédito consignado em agosto. Ele solicitou à CEF documentos sobre a operação. De acordo com a papelada, que está incompleta, o BMG procurou a Caixa, em 29 de novembro de 2004, para negociar os créditos consignados sob a alegação de falta de liquidez. Menos de um mês depois, em 22 dezembro, Jorge Mattoso deu o aval para a operação. A Caixa operava com crédito consignado desde maio de 2004. O BMG foi autorizado a conceder empréstimos consignados em folha de pagamento para aposentados e pensionistas do INSS em setembro de 2004.
O BMG fechou seis contratos com a Caixa, totalizando R$ 1,094 bilhão. O primeiro foi em 28 de dezembro de 2004 e outras cinco operações de cessão de crédito se deram ao longo deste ano – a última em 20 de setembro. Pela operação, a Caixa pagou um ágio de R$ 158,7 milhões, segundo o senador. Para ele, o responsável direto pela operação é o presidente Lula, "uma vez que ele nomeou o ministro da Fazenda e o presidente da CEF".