O senador Andrés Guzman, do Partido Democrático Social da Bolívia, comentou hoje o resultado da pesquisa que revelou que 88% da população boliviana aprova a nacionalização do gás natural decretada pelo presidente Evo Morales. Em entrevista concedida à reportagem da Rádio CBN de São Paulo, ele disse que acha "pequena" essa margem porque na Bolívia a opinião pública é unânime ao entender que o país deve ter o controle total e soberano das terras e riquezas do solo.

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Por outro lado, sobre os desentendimentos entre os governos dos países na questão do gás natural, o parlamentar se disse surpreso com o que vem acontecendo nos últimos dias. "Anteontem, estive em La Paz e presenciei o encontro entre o ministro Silas Rondeau, o presidente da Petrobras e outras autoridades. A reunião aparentava dar início a uma negociação inteligente e cordial entre os dois países, mas ontem eu ouvi o nosso presidente Evo Morales proferir palavras duríssimas em relação à Petrobras, o que nos surpreendeu" – afirmou.

O senador declarou que ficou bastante preocupado com as acusações feitas por Evo Morales. Isso porque, na sua avaliação, as relações da Bolívia com o Brasil são positivas, de amizade e de confraternização. "Nós temos 3,2 mil quilômetros de fronteira uma fronteira boa, amiga é essas palavras (de Evo Morales) nos deixam substancialmente preocupados porque não é o que nós atestamos. Eu cheguei ontem ao Brasil às 17 horas e me surpreendi com as notícias".

O parlamentar entende que há mais acordos do que divergências nos assuntos comerciais envolvendo os dois países. Ele recordou que, em 1992, quando da assinatura da compra e venda do gás natural, o projeto era estratégico porque seria o marco de inúmeras iniciativas de integração macroeconômica entre Brasil e Bolívia. "Me surpreende que agora tudo o que está acontecendo seja um ‘cavalo de batalha’ e no qual estamos levando a uma relação beligerante. Eu estou realmente preocupado em relação a essas questões. Espero que encontremos, em curto espaço de tempo, soluções em comum".

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Andrés Guzman pediu ao presidente Lula que aproveite o encontro que vai ter hoje com o presidente Evo Morales, em Viena e que possa ser colocado um ponto final nesses desentendimentos Ele acrescentou que os dois países têm um sinal comum de integração e que é preciso se olhar de frente para resolver os problemas. "Nós temos um futuro convergente, um futuro único. O continente precisa resolver seus problemas e nada melhor do que essa oportunidade para dar um bom exemplo" – considerou.

O senador acredita que o endurecimento das relações com o Brasil está tirando votos de Evo Morales. Ele frisou que se a idéia do presidente boliviano é eleger 240 constituintes para lhe dar a oportunidade de mudar a carta magna do país suas posições estão lhe tirando votos. "Esta relação com o Brasil está tirando votos dele. Na região de Pando, em Santa Cruz, que é o oriente boliviano, por exemplo, eu tenho certeza de que ele (Evo Morales) não vai obter os mesmos votos que recebeu há três meses na eleição para chegar à presidência. O boliviano tem admiração pelo Brasil, tem carinho pelo brasileiro".

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O parlamentar lembrou que, embora a população da Bolívia seja favorável à nacionalização das riquezas do subsolo da nação a maneira pela qual o governo e o presidente Evo Morales está conduzindo o caso vem recebendo críticas do povo. Comentou ainda que vê com preocupação essa semelhança de atitudes de Morales em relação a Hugo Chávez e Fidel Castro. "Eu não vejo como acidental essa grande amizade que ele mantém com Hugo Chávez e Fidel Castro. Esses modelos populistas de se eternizarem no poder é que nos deixam substancialmente preocupados" – afirmou. "Quero deixar claro que a Venezuela vem investindo pesado e como nunca fez na Bolívia, é verdade. No entanto, temo que o modelo que o presidente Chávez usou na Venezuela venha a ser exercido na Bolívia".