Semiologia e semiótica: o mundo cultural dos símbolos

Foram os gregos os primeiros a perceber a relação/diferença entre semeion (natureza) e symbolon (cultura), dando origem a duas linguagens: onomasiológica (de nome, objeto) e semasiológica (de palavra, conceito). Nosso espírito capta os sinais relacionais existentes na natureza (semiologia), reunindo significantes e significados, assim como constrói relações abstratas de significação (semiótica), acrescentando características e aspectos, construtos apenas imaginados pelo nosso cérebro: é o mundo cultural dos símbolos.

Em ambas, semiologia e semiótica, subjaz a realidade primária da linguagem, mental ou proferida, como fruto de nossa capacidade intelectual. Foi assim que Ferdinand de Saussure (1857-1913) desenvolveu uma semiologia relacionada à literatura, dentro de uma perspectiva diádica (significante/significado), ou seja, o que captar do sentido das palavras, constituindo uma semântica.

Já uma perspectiva ampla de simbolismo representativo, Charles Sanders Peirce (1838-1914) desenvolveu um sistema de representação triádica (signo-objeto-pessoa), de características pragmáticas, abrangendo todos os sinais expressivos, seja da realidade natural, seja da realidade humana, bem como das reações comportamentais advenientes: é o campo próprio da semiótica.

Vislumbrada pelos gregos (Platão, Aristóteles, os estóicos), a semiologia tem como seu principal fundador Santo Agostinho, que foi o primeiro a conceber uma teoria geral dos signos, posteriormente desenvolvida por John Locke. A semioilogia tem suas origens remotas igualmente na descoberta da etiologia das doenças (medicina), bem como na capacidade inventiva de criar histórias, que desde nossa infância encantam a nossa imaginação. Daí o surgimento das mitologias e de nossas ilações performativas.

Na variedade infinita de sentidos/significados que podem ser atribuídos a quaisquer fenômenos, a tarefa da semiologia/semiótica consiste justamente em tipificar ou sistematizar a sua análise, de forma a possibilitar a sua coerência (ou a sua lógica). Ao sugerir que a captação do sentido das coisas pode ser obtida a partir da análise de qualquer fenômeno, natural ou cultural, Peirce transformou a semiótica em uma arquitetônica do espírito, que nào quer ser nem idealista ou realista, mas que se encontra além de ambos: trata-se de um mundo peculiar de características virtuais, mas não irreais.

Reduzindo as categorias do conhecimento a apenas três, denominou-as como qualidade: o azul (primeiridade); relação: o azul do céu (secundidade) e representação: vejo o céu azul (terceiridade).

Entre as três, a mais importante é a representação, geradora dos signos. É por ela que nosso espírito interpreta a realidade, captando a sua originalidade específica. Finalmente, convém assinalar a importância do intercâmbio simbólico na geração do processo semiótico, por meio da qual se estruturam e se consolidam as experiências sígnicas.

Antônio Celso Mendes

é professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e pertence à Academia Paranaense de Letras.

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