Semana pedagógica e modernidade

Geraldo Almeida FAO/UFPR

E chegou mais uma. Para alguns é a primeira, para outros a sexta ou sétima, mas para uma boa parcela de educadores, será pela qüinquagésima vez. Se fosse comparada às famosas festas de aniversário de casamento, muitos educadores estariam completando bodas de ouro em semanas pedagógicas. Mas afinal, o que é uma semana pedagógica? Ou melhor, para que serve uma semana pedagógica? Se mais uma vez fossemos compará-la aos aniversários de casamentos, veríamos que a princípio seus objetivos acabam se confluindo nos mesmos ideais: festejar. Se no casamento festejamos os anos, sofridos ou não, de tolerância recíproca, de amor, de companheirismo, nas semanas pedagógicas também comemoramos: alguns comemoram o retorno ao trabalho, principalmente os que trabalham em escolas privadas, aqueles que ficam desesperados no final de cada ano por não saber se terão aulas no próximo período; outros comemoram a persistência (do tipo, esse ano tenho mais um qüinqüênio, então, vou continuar, afinal, quem chegou até aqui pode chegar até a aposentadoria); mas há, e não podemos negar, aqueles que retornam realmente, em corpo e ânima. Esses, embora poucos, chegam abarrotados de idéias, trazem visões inovadoras, edificam diálogos e avaliações pertinentes; mas, coitados, sozinhos, tendo apenas uns poucos pares para lhes apoiar, não ecoam. Suas vozes são costumeiramente caladas por aqueles que querem continuar a reproduzir, a duvidar do que é novo, a excluir o desconhecido.

Há outro grupo, porém, a mim o mais preocupante, é o daqueles que tentam manter os velhos chavões, os velhos e pobres-discursos-comuns no sentido de buscar aquilo que, há anos, todos falam, mas sequer ele, o próprio condutor do diálogo, é capaz de iniciar a empreitada. Chego a ficar preocupado com os quase 2 milhões e meio de professores esparramados pelo Brasil afora, nesta semana. De canto a canto do País eles se reunirão, ouvirão palestras, definirão o perfil do egresso, planejarão. No entanto, ao findar mais um ano, pouco, ou quase nada, farão com tudo aquilo edificado falsamente na semana pedagógica. É necessário aqui, pontuar que generalizações não fazem bem a nada, tampouco à educação. Assim, peço que excluam a pequeníssima parcela de escolas, públicas e privadas, em que a semana pedagógica realmente faz sentido de existir.

Procure ao seu lado e encontrará um professor se queixando. Dizendo que já não agüenta mais semana pedagógica.

Uma professora me disse que o mais desconfortante são as chamadas dinâmicas de grupos: "é um tal de bombom pra cá, bombom pra lá, abrace seu amigo, diga a ele isso, diga a ele aquilo. E o que é pior, algumas necessitam passar a mão aqui e acolá em uma pessoa que muitas vezes você nunca viu ali, é professor iniciante na unidade e assim por diante." É degradante perceber que esse não é um relato isolado. Há outros desconfortos que apresentam um grau muito mais elevado de constrangimento. Alguns ridicularizam e outros chegam até a humilhar os profissionais. Alguém duvida?

Exageros à parte, pergunto, esses são os motivos para reunir os professores nas semanas pedagógicas? Todo profissional sabe que um bom trabalho dependerá diretamente do planejamento que se faz dele. Grandes performances profissionais, ou tão somente, boas performances profissionais, são posteriores a excelentes projetos. Projetos de boa qualidade, calcados em realidades verdadeiras, dão origem, muitas vezes, a resultados surpreendentes. Mas, para que esses bons projetos consigam ser apurados é necessário um certo período de cozimento, chamado discussão, participação coletiva, compromisso. Não é possível visualizar todas as dimensões, riscos e pontos fortes de um projeto sozinho. É imprescindível que outros olhares e outras vozes lancem críticas e sugestões. Essa é a única maneira de se fazer grande. Além disso, é também imprescindível, que esses profissionais seja conduzidos e comprometidos na execução e otimização desse arcabouço. Bons projetos necessitam de bons líderes para conduzi-los, de pessoal de base para sustentação, de retaguarda conceitual, de estratégias diversas, de recursos físicos e intelectuais e principalmente e executores. O problema é que se tem tudo isso, menos os executores.

Nos mais diversos grupos de fazedores da educação, não é incomum encontrar grupos profissionais com pensadores muito bons, projetistas exímios, articulistas fantásticos, mas pouco, ou quase nada se tem de "executadores" de projetos. Profissionais que querem e colocam a mão na massa sabendo o que estão realizando. Falta ainda, e muito, (re) descobrir o significado da chamada transposição didática.

Saber que esse ou aquele conteúdo é importante na formação de alguém, não é difícil, mas saber como trabalhar todas essas questões, operacionalizar o conteúdo, é que carece de profissionais. Não é possível pegar qualquer coisa na rua e levar pra sala de aula. Não dá pra acreditar que um professor possa continuar achando que qualquer coisa é importante para a sala de aula. Há muitos exageros. Há poucos se preocupando com a ciência, com a prioridade, com a simplicidade.

Vamos torcer para que nesta semana, em que para muitos acontecerá aquilo que já aconteceu nos últimos 20 anos: conversas desencontradas, sem valor para matar o tempo, assuntos inúteis; aconteça verdadeiramente algo novo. Que a semana pedagógica 2005 possa fazer com que nós, profissionais da educação, tenhamos condições de perceber o que é o espaço da sala de aula: o lugar da ciência, do imaginário, do social. Todos, dosados a conta-gotas.

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