A presença da polícia dentro de uma fazenda invadida e ocupada por centenas de famílias de lavradores sem-terra provocou revolta dos agricultores, bloqueio da rodovia PA-160 e baleamento de três homens, confundidos com fazendeiros de Parauapebas e Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará. Uma criança de nove anos também saiu ferida, após receber uma pedrada na cabeça.
Armados com espingardas, foices, porretes e facas, mais de cem agricultores, ligados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), fecharam a estrada no final da noite de terça-feira (24), reforçando o bloqueio durante todo o dia de hoje (25).
Caminhoneiros e motoristas que tentavam furar a barreira dos sem-terra tiveram seus veículos depredados e foram agredidos fisicamente. Um dos líderes do protesto, que não quis se identificar, disse por telefone que o fechamento da estrada ocorreu porque policiais civis e militares montaram uma operação para a retirada dos sem-terra que ocupam a fazenda Rio Verde. Ele afirma que a área é improdutiva e acusou a polícia de trabalhar para os fazendeiros.
De acordo com a polícia de Parauapebas, os agricultores, que invadiram a Rio Verde desde o dia 15 de abril, seriam os mesmos expulsos em outra operação militar em março passado para desocupação da fazenda Santa Fé.
A criança ferida a pedrada estava em um dos veículos que tentou furar o bloqueio. Em outro carro particular viajavam Eduardo Hermano Machado, 44 anos, e Tarcísio Holanda Maia, 40 anos, ambos baleados nas costas com tiros de espingarda. Outro ferido, Moisés Teixeira Marques, 40 anos, foi baleado no braço.
As vítimas são representantes de vendas em Belém e viajavam a serviço pela região. Mais duas pessoas viajavam com eles, mas não foram feridas. A Polícia Militar deslocou um grupo de 50 homens para negociar o desbloqueio da rodovia.
A Fetagri e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá acusam o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de demora no assentamento de mais de 12 mil famílias no sul do Estado. Hoje, em toda a região, há mais de 150 acampamentos montados pelos sem terra dentro de fazendas invadidas. A direção do Incra em Marabá contesta os números das entidades, informando que somente no ano passado mais de dez mil famílias foram assentadas em 39 municípios.