Numa reflexão prudente e, acima de tudo, em sintonia com a triste realidade plasmada pela observação do que se passa nas altas camadas da vida institucional do País, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), revogou a proteção do segredo de justiça do inquérito da Operação Navalha.
A ministra chegou à óbvia conclusão de que quem se beneficiava em volume e ritmo alucinantes era a indústria do boato, aliás, uma das práticas mais afiadas, para não dizer abjetas, do escancarado atrevimento com que o lobismo flanqueia os poderes constituídos. Uma ?esteira de boatos e maledicências que paira sobre pessoas que nenhum envolvimento têm com os fatos?, argumentou a ministra na justificativa de seu despacho.
Diante do vazamento de informações sobre as investigações, incluindo minúcias avassaladoras da gravação de conversas telefônicas, fotografias do deslocamento dos funcionários da Gautama e até cópias de imagens captadas pelo circuito interno de televisão instalado no corredor do gabinete do ex-ministro Silas Rondeau, não havia razões jurídicas para manter em segredo um inquérito acompanhado pela sociedade, praticamente, em tempo real.
O lado saudável da decisão da ministra do STF é que, a partir de agora, ela mesma tornará públicas todas as decisões que tomar em relação ao inquérito da Operação Navalha. Apenas os autos do processo continuam restritos às partes envolvidas e seus advogados.
A expectativa dominante em Brasília volta-se, agora, para a Procuradoria-Geral da República, porquanto o procurador Antonio Fernando de Souza estabeleceu o encerramento da tomada de depoimentos pela ministra Eliana Calmon, para a conclusão do relatório oferecendo denúncia contra os envolvidos nas fraudes operadas pelo empresário Zuleido Veras, em conluio com parlamentares e servidores públicos de alto coturno.
Resguardado o estrito limite da lei, informar a sociedade sobre o esforço para extirpar a corrupção, é um avanço considerável.