Sem “reforma profunda”, polícia não é solução, mas “parte do problema”

Brasília ? Um dos principais fatores que provocam a violência é o tráfico de armas nas favelas, antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública. "Os fuzis não sobem os morros de baixo da camisa de ninguém. Os fuzis sobem em carros", destacou o antropólogo. Segundo ele, em muitos casos, é a própria polícia a responsável pelo tráfico.

A violência se reproduz "porque de baixo de cada favela está um segmento policial articulado com o crime, inclusive levando as armas". "Enquanto a polícia estiver fazendo parte desta dinâmica, é evidente que nós não vamos avançar porque o instrumento que poderia ser a solução é parte do problema", afirmou. Soares defende que as instituições policiais passem por uma "reforma profunda" para atuar contra o narcotráfico nas favelas brasileiras.

Soares também foi subsecretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, de janeiro de 1999 a março de 2000. O antropólogo concedeu entrevista hoje (29), à Agência Brasil, para comentar a morte do chefe do tráfico de drogas na Rocinha, Erismar Rodrigues Moreira, conhecido como Bem-te-vi. Segundo ele, a operação que resultou na morte de Bem-te-vi não significa que algo irá mudar.

"Nos últimos 20 anos, morreram milhares de traficantes e isso não resultou em qualquer alteração significativa. Porque eles são substituídos imediatamente e a dinâmica se reproduz", disse Luiz Eduardo.

O antropólogo criticou a forma com que as operações policiais ocorrem nas favelas. "Se uma operação desastrada, irregular, brutal de uma dessas que ocorrem nas favelas com tanta freqüência no Rio de Janeiro fosse feita na área nobre de Copacabana, Ipanema ou na Barra da Tijuca, o governador enfrentaria uma crise sem comparação", diz

O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, disse hoje que a Operação Tróia ? na qual foi morto o Bem-te-vi ? foi resultado de um trabalho de inteligência. Ele ressaltou que nos últimos dois anos e meio foram presas 74 das chamadas lideranças do tráfico de drogas.

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