Pela primeira vez desde 1999, o governo federal entra num exercício sem orçamento aprovado pelo Congresso. Falharam todas as tentativas para congregar a base parlamentar do governo em torno da exigência, e esta realidade desvelou a intimidade de um governo sem comando sobre as bancadas formadoras da chamada aliança.
Batido no terreno mesmo em que fez questão de alardear competência, a capacidade de arregimentação político-partidária que acabou parindo o monstrengo da fusão de práticas disparatadas num único bloco, o governo paga o tributo de levar pela cara o estigma da ineficiência.
Parece que o ministro Luiz Fernando Furlan, personagem cada vez mais deslocado no tragicômico mundo oficial, responsável pela aceleração do ritmo cardíaco de alguma gente do governo, ao transparecer em Hong Kong que em 2006 as perspectivas na economia e desenvolvimento são as piores possíveis, trabalhava com a premonição que sequer o orçamento seria aprovado antes do final do ano, como é de praxe na República.
Sem orçamento, o governo poderá gastar em despesas de custeio consideradas emergenciais apenas um duodécimo da previsão da receita, estimada em R$ 10 bilhões para o ano que vem. Lula terá a seu favor o dispositivo acrescentado à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), permitindo a elevação do limite.
Assim, a frustração comprometerá inúmeros projetos elencados pelo governo para entrar o ano em plena atividade. A lembrança é oportuna, pois 2006 é ano eleitoral e se for mesmo candidato, como tudo leva a crer, Lula terá de mostrar um amplo programa de obras sociais e de infra-estrutura.
Conhecedores da intimidade do Congresso afirmam que o orçamento só estará discutido e aprovado no final de fevereiro, 60 dias depois do início do exercício. Os mais realistas cavilam que a discussão poderá arrastar-se até o final de março, dando foros de veracidade ao jocoso axioma que o País só entra nos eixos depois do Carnaval.
Num cenário propício à evolução das figuras típicas dos antigos ranchos e folias presididas pela farsa de Momo, aquela sociedade útil de homens bons e produtivos que não teme expor-se aos efeitos da chuva ou do sol – apesar dos apelos à desídia – continua trabalhando.
Enquanto isso, a saúva primordial quer mais.