Apontado como favorito nas próximas eleições presidenciais, o candidato Lula da Silva está no meio do furacão. É, também, apontado como o elemento motivador da alta do dólar, da queda das bolsas, das crises nervosas do mercado, do aumento dos índices que medem o risco-Brasil, enfim, da instabilidade que envolve o País e os brasileiros. Ninguém sabe, na verdade, o que pode acontecer sob um eventual governo Lula. E a especulação, a dúvida, os prognósticos e desconfianças, para desgraça nossa, avançaram além-fronteiras. Já nos colocam na fila, após a hecatombe da Argentina.
Com o objetivo de tentar transmitir calma, na semana que passou o candidato realizou sérias promessas. Defendeu o equilíbrio fiscal, jurou que vai perseguir o superávit primário, exorcizou a quebra de contratos e tudo o mais. Até aqui, os efeitos foram nulos. As promessas patrióticas de Lula vieram tarde demais. O mercado está a demonstrar que é mais sensível ao que demonstra seu passado que àquilo que lhe sai da boca nesta fase de gestos contidos de caça aos votos.
Lá nos Estados Unidos, onde costumam costurar a sorte dos outros, o presidente do banco central, Alan Greenspan, repete o que disseram aqui os comandantes de nossa instável economia: o problema do Brasil é cem por cento político. “As dúvidas – disse Alan – estão todas concentradas no que Lula fará.” Acrescentamos: não no que ele diz ou dirá até o final dessa campanha. Ou o que dirão os seus, incluindo o candidato a vice, José de Alencar, buscado nas fileiras do Partido Liberal.
Tomado como tal, o discurso de Lula foi encorajador, opinaram alhures. Mas insuficiente para convencer que, de fato, o candidato mudou e está disposto a cumprir o caderninho. Se suas promessas tivessem sido feitas há um ou dois meses, talvez tivessem conseguido o efeito ora desejado. Mas agora que já está feito o estrago, o resultado pode ser apenas um: o de que o candidato assuma de fato sua parte de culpa pelas turbulências brasileiras, cuja economia corre o risco de – como dizem os especialistas – acabar no “overnight”. São sintomáticas as palavras de Paulo Leme, reproduzidas domingo último. Ele é um desses analistas de plantão – o diretor de Pesquisa de Mercados Emergentes de uma importante instituição bancária – que considera que o candidato “disse tudo o que a gente esperava ouvir”, mas “não acredito que isso mudará a percepção do mercado”. A comparação que fez chega a constituir uma boa piada: “É como o marido que trai 365 dias num ano e depois leva flores para a mulher prometendo ser fiel”…
Como convém aos bons maridos, de um candidato exige-se ou espera-se que ele tenha o mínimo de credibilidade. Não é, pelo visto, o caso em análise. Mesmo que esteja imbuído das melhores intenções – e nessas alturas ninguém duvidaria disso – Lula padece do mal da maquiagem ou, qual produto colocado à venda em temporada de liquidação, da embalagem. É preciso abrir para ver o que, de fato, está dentro.
Juiz final desse debate será o eleitor nacional, nem sempre atento ao que dizem lá fora os que têm, neste mundo global e cada vez mais volátil, a capacidade de arruinar nossas finanças e complicar mais ainda nossa vida.